Absorção:
Em termos químicos, é a fixação de um gás por um sólido ou líquido, ou de um líquido por um solido. Ao contrário da adsorção, a substância que é absorvida infiltra-se na que a absorve. Ver adsorção.
Ácidos Húmicos:
A maior parte dos compostos orgânicos são substâncias húmicas, precedentes da degradação microbiana e química dos hidratos de carbono e proteínas e dos polímeros fenólicos que se formam por condensações intramoleculares de lenhina e taninos de origem vegetal. Ambos os produtos combinam-se para formar poliheterocondensados amorfos (húmus). Dependendo da sua solubilidade, estes compostos diferenciam-se em ácidos húmicos (solúveis em meio alcalino) e ácidos fúlvicos (solúveis em meio ácido), no entanto esta designação é geralmente atribuída a ambos os compostos.
Adsorção:
Formação de uma camada de um gás ou de uma substância em solução sobre a superfície de um sólido ou, menos frequentemente, de um líquido. Consoante o tipo de forças envolvidas podemos ter dois tipos: adsorção química, onde uma única camada de moléculas, átomos ou iões é unida à superfície adsorvente por intermédio de ligações químicas, ou adsorção física, em que as moléculas adsorvidas são retidas por forças de Van der Waals. Certos compostos orgânicos como hidrocarbonetos, pesticidas, toxinas e outras substâncias causadoras de cor, sabores e cheiros desagradáveis, podem ser removidos da água por adsorção, utilizando carvão ativado em pó diretamente na água, ou em grãos, como meio filtrante juntamente com a areia. Em certas situações as reações de adsorção são reversíveis, podendo-se extrair os poluentes adsorvidos ao carvão ativado, havendo a sua recuperação. O carvão vegetal em pó ou a argila são excelentes adsorventes em virtude do elevado valor da relação superfície/volume. Ver carvão ativado, cianobactérias.
Adução:
é o transporte da água entre o local de captação e a ETA, e/ou entre a ETA e a rede de distribuição, abrangendo geralmente grandes distâncias, e normalmente, sem derivações.
Aeróbio:
Que necessita de oxigénio livre para viver ou para se desenvolver.
Água:
Substância química muito estável, composta por dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio; como substância, a água pura é incolor, não tem cheiro nem sabor. Esta é a única substância que existe na Terra em três estados (sólido, líquido e gasoso), a temperaturas relativamente próximas, apresenta uma capacidade calorífica muito forte, e calores latentes de mudança de fase muito elevados, sendo um isolante térmico natural (regula a temperatura da Terra, tendo um papel primordial no que respeita à estabilidade da sua temperatura e dos vários fenómenos climáticos). Além destas propriedades, a água é o solvente universal (tem a capacidade de dissolver uma quantidade enorme de compostos, pelo que na natureza não existe pura). A água ocupa cerca de dois terços da superfície da Terra e é o constituinte principal dos organismos vivos, pelo que sem ela não seria possível a vida.
Água agressiva:
Uma água com esta característica é uma água suscetível de promover o ataque corrosivo a condutas ou tubagens por ela atravessadas, devido ao desenvolvimento de fenómenos galvânicos que vão atacando progressivamente a superfície do metal até à sua completa destruição. Quando as condutas são de ferro ou aço pode dar origem a ferrugem, se as condutas forem de chumbo, metal pesado bioacumulável nos seres vivos, pode haver a sua dissolução, podendo causar danos à saúde. Os reservatórios e outros constituintes das redes de adução e/ou distribuição de betão e cimento podem ser prejudicados pela dissolução dos componentes calcários, visto que se trata de uma água deficiente em carbonatos. Muitas vezes torna-se necessário proceder à correção da agressividade. Há vários tipos de águas naturais agressivas, como as águas superficiais macias, águas superficiais duras (com elevada dureza carbonacea), águas subterrâneas duras (com dureza carbonacea substancial), e águas subterrâneas com baixa dureza carbonacea, mas com elevado dióxido de carbono livre. Ver correção da agressividade, corrosão.
Água bruta:
água natural (superficial ou subterrânea) que não foi submetida a nenhum processo de tratamento.
Água captada para consumo público:
é a água retirada do meio natural (água superficial ou subterrânea), e que é conduzida à Estação de Tratamento de água. O tipo de captação depende das origens de água existentes no local, podendo ser, no caso das origens superficiais, constituídas por torres de captação implantadas no leito de um rio, e por furos, no caso das origens subterrâneas.
Água dura:
Ou água calcária, é uma água que contém grandes quantidades de cálcio e magnésio. Este tipo de água acaba por ser benéfica para a saúde, pois constitui um acréscimo de cálcio, que é um elemento importante para o organismo. No entanto é um pouco desagradável para o uso, pois pode causar graves danos em canalizações e eletrodomésticos, por formação de depósitos de carbonato de cálcio que causam a sua obstrução. Se for muito dura pode mesmo tornar-se inadequada para o consumo humano, pois essas propriedades incrustantes podem causar a destruição de tubagens e outros materiais de captação ou distribuição, podendo haver contaminações da água que chega ao consumidor. Para a remoção dos elementos que contribuem para a dureza da água faz-se o seu amaciamento. Ver também cálcio, magnésio e dureza total.
Água mineral:
água que contém sais minerais dissolvidos em maior quantidade que as águas potáveis comuns, nomeadamente o cálcio, o magnésio, o potássio o sódio e os bicarbonatos. Neste tipo de água existem bactérias naturais benéficas, como as que existem nos iogurtes (L. casei imunitass).
Água salubre e limpa:
água que está em condições fisico-químicas e microbiológicas para ser bebida, sem pôr em perigo a saúde humana. Para tal não deve conter micro-organismos patogénicos ou substâncias químicas acima dos valores estabelecidos na legislação.
Água poluída:
Considera-se que a água está poluída sempre que contenha substâncias poluentes, tóxicas, bactérias patogénicas e temperaturas excessivas
Água produzida:
é a água já tratada, que dá entrada no sistema de adução e armazenamento, ou diretamente no sistema de distribuição.
Águas residuais:
águas contendo desperdícios dissolvidos e em suspensão que lhes conferem uma composição variável, dependendo das atividades que lhes deram origem. Podem tratar-se de águas residuais domésticas, se a sua origem são as instalações residenciais e serviços, e também as águas pluviais, e caracterizam-se fundamentalmente por uma elevada carga orgânica, nomeadamente micro-organismos de origem fecal, que provocam a sua contaminação. As águas residuais industriais por sua vez resultam da laboração das indústrias, tendo por isso, composições muito variáveis. Ambas têm de ser convenientemente tratadas em estações de tratamento destinadas a esse fim (ETAR’s) antes de serem descarregadas no meio hídrico. Se as águas residuais industriais forem compatíveis com as domésticas, podem ser tratadas na mesma estação de tratamento, mas muitas instalações industriais possuem ETAR própria.
Água subterrânea:
água que se situa abaixo da superfície do solo na zona de saturação e em contacto direto com o solo ou o subsolo, ocupando os poros e fendas do solo e de formações rochosas. Este tipo de água é muito vulnerável à poluição, sobretudo agrícola, devido à sua fraca capacidade de autodepuração (na maior parte dos casos não contém oxigénio dissolvido). No entanto, se não estiver associada episódios de poluição ou sobre-exploração, apresenta melhor qualidade que as águas de origem superficial, requerendo um tratamento menos exigente para a sua potabilização. Ver água superficial, estação de tratamento de água, intrusão marinha, salinização, tratamento da água.
Água superficial:
água que não penetra no subsolo, correndo ao longo da superfície do terreno, e acabando por entrar nos lagos, rios ou ribeiros; água armazenada numa parede rochosa, represa ou barragem; água recolhida de uma pequena zona de drenagem como um telhado, e armazenada numa cisterna para uso doméstico. Em termos de abastecimento de água, esta é captada em rios, canais, ribeiras, lagos, bacias de retenção e albufeiras. As águas superficiais têm uma composição muito variável, consoante as características do local e as épocas do ano, apresentando geralmente elevada turvação no outono/inverno, e algas na primavera/verão , contendo partículas em suspensão, substâncias químicas e micro-organismos que as tornam impróprias para consumo humano sem tratamento.
As principais características de uma água de superfície são:
temperaturas relativamente altas;
elevada concentração de matéria orgânica dissolvida, proveniente da
decomposição de vegetação e de resíduos de origem antropogénica;
elevada turvação, devida principalmente aos sólidos suspensos (matéria orgânica finamente dividida, micro-organismos, plâncton, areias, argilas, etc.);
desenvolvimento por vezes excessivo de algas, bactérias, cistos e vírus patogénicos de grande variedade;
sabores e cheiros resultantes de todos estes fenómenos.
Deste modo, este tipo de água não deve ser consumida sem ser previamente submetida a um tratamento prévio (que depende das características da água a tratar), por forma a que não comprometa a saúde humana. Ver estação de tratamento de água, tratamento da água.
Alcalinidade:
Alcalinidade de uma água mede a sua capacidade para neutralizar compostos ácidos. Na maioria das águas naturais, que têm pH entre 6 e 8, pode-se dizer que corresponde à soma das concentrações das espécies carbonáceas (ião carbonato e bicarbonato), e de hidróxidos de cálcio, magnésio, sódio e potássio.
Algas:
Plantas simples, que contém clorofila e/ou outros pigmentos fotossintéticos, muito abundantes na água e locais húmidos. Estas plantas podem ter dimensões variadas, e as microscópicas podem encontrar-se livremente suspensas ou fixadas a certas superfícies. A sua classificação é feita consoante a sua estrutura, pigmentos, filamentos e natureza química da parede celular. O crescimento das algas depende da presença de vários elementos químicos presentes em determinadas proporções, nomeadamente o fósforo, o azoto e o carbono. Estes nutrientes podem ter várias fontes, como a degradação da vegetação, erosão das rochas, efluentes domésticos e industriais, detergentes fosfatados e escoamento agrícola. Estes organismos são caracterizados, em parte, por uma grande simplicidade de estrutura, diferindo do grupo das bactérias (à exceção das cianobactérias, antigamente denominadas algas azuis) pela presença de núcleo celular, reprodução sexuada e plastos chamados cromatóforos que contém os pigmentos fotossintéticos.
Para as empresas responsáveis pela distribuição de água para consumo humano, é fundamental o conhecimento de alguns géneros e espécies de algas dominantes, pois ela afetam a qualidade da água que chega ao consumidor, produzindo cheiros e sabores desagradáveis. Há certas algas que interferem no processo de tratamento, sobretudo nas fases de coagulação/floculação, decantação e filtração. Há ainda algas que são de grande importância, como as cianobactérias, pois produzem substâncias tóxicas para o Homem, e compostos potencialmente mutagénicos e cancerígenos, quando na presença de cloro. Ver cianobactérias.
Alumínio:
Este elemento metálico é um dos mais abundantes na Terra, logo após o oxigénio e o silício, podendo surgir em águas doces devido a descargas de efluentes industriais, ou à lixiviação do substrato. é utilizado como coagulante no tratamento da água, na forma de sais de alumínio, como os sulfatos ou policloretos, para provocar a coagulação/floculação das partículas coloidais presentes na água bruta, que ao se aglomerarem formam precipitados (flocos) sendo possível a sua separação da fase líquida. A quantidade de coagulante a utilizar depende da natureza e quantidade das substâncias coloidais, bem como do pH da água. Nem todo o alumínio fica no precipitado, permanecendo parte dele em solução, o que constitui o alumínio residual, que se encontra na água que bebemos.
Para teores de alumínio residual acima de 0,5 mg/L (e para o pH usual da água para beber) formam-se compostos insolúveis como o hidróxido de alumínio. Este forma um precipitado branco que torna a água imprópria para consumo por excesso de turvação. O precipitado não é necessariamente tóxico nestas concentrações. Os problemas de toxicidade são apenas de temer apenas em pessoas que não tenham a capacidade de eliminar o excesso de alumínio (a maior parte é eliminada através das fezes, não chegando a ser absorvido pelo organismo), ficando sujeitas a um processo de acumulação nas células, formando depósitos volumosos que impedem o bom funcionamento ou mesmo a sobrevivência dessas células.
Então, os efeitos que o alumínio pode ter sobre a saúde humana são a destruição das células cerebrais ou do miocárdio, causando encefalopatias ou cardiopatias mortais por destruição progressiva e irreversível (estas células não se renovam ou fazem-no de uma forma muito escassa), a destruição de células hepáticas e a ocorrência de anemias e descalcificações ósseas. A toxicidade do alumínio está também associada a algumas formas de demência senil, como a doença de Alzheimer. Ver coagulação, coagulante.
Aluviões:
Sedimentos constituídos por calhaus, cascalho, areias e partículas finas transportados por correntes de água e que se depositam no leito principal dos rios. Estes materiais resultam da erosão hídrica das rochas a montante, sendo transportados pelas correntes de água para jusante, principalmente na altura das cheias.
Amaciamento:
Processo de tratamento utilizado para remover os elementos que contribuem para a dureza da água, cálcio e magnésio, quando presentes em excesso. é um tratamento de precipitação (formação de compostos sólidos, separáveis da fase líquida), por adição de um composto, como por exemplo, a cal apagada (hidróxido de cálcio) ou a soda (carbonato de sódio). Por vezes torna-se necessário corrigir o pH da água por forma a aproximar-se o mais possível do pH de equilíbrio ou de saturação, para o qual a água se comporta como “inerte”. Para tal, é comum a utilização de dióxido de carbono.
Este tipo de tratamento é mais comum em águas subterrâneas. Ver água dura, dureza total. ~
Ambiente:
“... é o conjunto dos sistemas físicos, químicos, biológicos e suas relações e dos fatores económicos, sociais e culturais com efeito direto ou indireto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do Homem.” (Lei de Bases do Ambiente, Lei n.o 11/87, de 7 de abril)
Anaeróbio:
Que não pode viver ou desenvolver-se em contacto com o oxigénio do ar.
Anóxia:
Diminuição da quantidade de oxigénio num meio, ou a sua falta. Um processo anóxico é aquele em que não intervém o oxigénio. Tem um sentido muito próximo do anaeróbio.
Anidrido carbónico/dióxido de carbono livre:
Na forma gasosa, o CO2 é produto da combustão e da respiração do Homem e dos animais de sangue quente, sendo utilizado pelas plantas durante a fotossíntese. é das substâncias presentes nas águas que mais influência tem no pH, e a forma livre diz respeito à fração de CO2 agressivo (excesso de CO2, i.e., existe uma quantidade maior à que seria necessária para manter o bicarbonato de cálcio em solução) e à de CO2 equilibrante (fração tal que não ocorrem nem fenómenos de dissolução nem de precipitação). O equilíbrio entre os bicarbonatos (CO32-) e o CO2 pode dar lugar à dissolução do carbonato de cálcio (agressividade) ou à produção de incrustações, dependendo da concentração de bicarbonato de cálcio presente em solução, fenómenos que por vezes se podem sobrepor às reações eletroquímicas de corrosão que ocorrem entre os metais e a água. Por vezes é utilizado como complemento do tratamento da água, no processo de amaciamento da água, por forma a atingir o equilíbrio calco- carbónico, ou para fazer a sua remineralização, por incremento da concentração de bicarbonatos.
Em termos de saúde não se conhecem efeitos deste composto quando presente na água para consumo. No entanto, a sua presença nos sistemas de distribuição de água não é desejável devido aos já referidos efeitos corrosivos. Segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo humano, para este parâmetro físico-químico não estão regulamentados quaisquer valores, sendo apenas referido que a água não deve ser agressiva. Ver água agressiva, amaciamento, correção da agressividade, corrosão.
Antimónio:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis de origens industriais (refinarias de petróleo, cerâmica, eletrónica e soldadura). Embora com uma toxicidade inferior à do arsénico, os seus efeitos são muito semelhantes, nomeadamente o cancerígeno, podendo provocar o aumento do colesterol e a diminuição da glucose no sangue. é eliminado pelas excreções, e aparentemente o antimónio trivalente é eliminado a uma velocidade menor que o pentavalente.
Antropogénico:
Diz respeito às atividades humanas. Por exemplo, a contaminação por ingestão ou inalação de cádmio (metal pesado tóxico) tem como origens várias atividades humanas, como a metalurgia, fabrico de baterias, revestimento de recipientes para armazenamento de alimentos, fertilizantes fosfatados, etc., sendo portanto de origem antropogénica.
Aquífero:
Formação geológica ou solo poroso, limitado em superfície e em profundidade, através do qual a água se pode infiltrar a grandes profundidades, talvez muito lentamente, retendo-a como uma esponja, e proporcionando água subterrânea para fontes e poços. Também chamado lençol de água subterrânea ou lençol freático. Ver água subterrânea, intrusão marinha, salinização.
Argilas:
Silicatos hidratados de alumínio, de magnésio e de ferro. As argilas são hidrófilas e impermeáveis, e apresentam-se sob a forma de partículas de pequenas dimensões (de 1 ou mais μm), constituídas por múltiplos folhetos, o que lhes proporciona um aumento da reatividade.
Armazenamento:
Após a injeção do desinfetante, geralmente cloro gasoso, na água filtrada, esta é armazenada em cisternas e depois é aduzida até aos reservatórios. O armazenamento tem pois várias funções: durante o tempo em que a água está armazenada, ao estar em contacto com o cloro, permite que se dê a oxidação de compostos orgânicos que eventualmente tenham escapado ao tratamento, ou que tenham sido introduzidos, p.e. por alguma rotura, contribuindo para a obtenção de uma água em condições para ser bebida; constitui uma reserva de água para dar resposta às flutuações dos consumos, e garante a existência de pressão hidráulica necessária na rede de distribuição (geralmente os reservatórios situam-se em locais com cotas elevadas para evitar a construção de estações elevatórias). Ver desinfeção , reservatório.
Arsénio:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas, pode ocorrer nas águas naturalmente e devido a certas atividades humanas, como a extração mineira, a combustão de carvões, adubos fosfatados, pesticidas e detergentes. é uma substância cuja toxicidade depende da forma físico-química em que se encontra (o arsénio mineral é mais tóxico que o orgânico, e a forma trivalente oferece mais perigos que a pentavalente), da via de entrada no organismo, da dose e do sexo do indivíduo exposto, e o seu de efeito é cumulativo (a intoxicação pode manifestar- se ao fim de um largo período de tempo, com uma ingestão diária de 3 a 6 mg). Os seus efeitos sobre a saúde humana são no caso de uma intoxicação aguda, ao nível neurológico, podendo causar a morte quando em doses entre 70 e 180 mg. No caso de intoxicação crónica, podem surgir inflamações nas mucosas dos olhos, nariz e laringe, astenia muscular generalizada, perda de apetite e náuseas. Pode ter efeitos graves aos níveis dermatológico, neurológico e circulatório, e inclusive originar tumores.
Autodepuração:
Tendência geral de uma massa de água para recuperar naturalmente da contaminação por compostos orgânicos. Este processo depende bastante das reações bioquímicas em que vários micro-organismos, nomeadamente bactérias, na presença de oxigénio dissolvido em quantidade suficiente, utilizam a matéria orgânica como alimento, decompondo compostos complexos noutros mais simples e relativamente inofensivos. A luz solar também desempenha um papel importante na autodepuração da água, mas a condição essencial é a quantidade suficiente de oxigénio dissolvido, sem a qual este processo cessa (ou seja, a velocidade de oxigénio absorvido excede a velocidade de reabastecimento), originando condições de eutrofização, associadas a maus cheiros, massas flutuantes de lama negra, e em casos drásticos, a extinção da vida aquática. Ver eutrofização, oxigénio dissolvido.
Azoto amoniacal:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, relaciona-se com a contaminação da água, podendo estar na origem dos problemas daí resultantes. O amoníaco (NH3) pode surgir nas águas como consequência da degradação incompleta da matéria orgânica, mas também devido ao arrastamento de fertilizantes de solos agrícolas (por chuvadas ou rega), ou devido a excrementos humanos e animais, e é muito tóxico para os peixes e homem quando dissolvido na água. O azoto é um dos constituintes essenciais da matéria viva, sendo assimilado pelas plantas por absorção, e contribui para o desenvolvimento de certos micro-organismos que o assimilam por fixação do azoto, alterando as características organoléticas da água e exigindo maiores dosagens de cloro para a desinfeção (pois reage com o cloro, formando cloraminas).
Azoto Kjeldahl:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, refere-se ao conjunto das substâncias azotadas inorgânicas e orgânicas presentes na água, como as proteínas, polipeptídeos e aminoácidos. Não são incluídos os nitratos e nitritos. Como se referem a vários tipos de substâncias, os seus efeitos e toxicidade são diversos.
Bactérias:
Micro-organismos unicelulares sem membrana nuclear, mitocôndrias, aparelho de Golgi e retículo endoplasmático, mas possuindo paredes celulares com alguma rigidez. As suas dimensões variam entre 1 e 20 μm, e a maioria é aeróbia, mas também podem ser anaeróbias. Podem existir no ar, na água, em animais ou plantas, e embora sejam capazes de sintetizar o seu próprio ADN, ARN e proteínas, dependem de um hospedeiro para a obtenção de condições favoráveis para o seu crescimento. A patogenicidade das bactérias depende da sua capacidade de interferir com as células do hospedeiro ou de libertar toxinas, havendo espécies que são inofensivas e por vezes úteis para o Homem (ajudam o processo digestivo, habitando o intestino). Há ainda espécies que auxiliam na decomposição da matéria orgânica. Ver cianobactérias, doenças transmitidas pela água.
Bactérias indicadoras de contaminação fecal:
São micro-organismos da flora do intestino do Homem e dos animais de sangue quente, como a Escherichia coli e os Estreptococos fecais, utilizados na pesquisa bacteriana como indicadores de contaminação fecal. Se estes micro-organismos estiverem presentes na água, é muito provável que existam outras bactérias patogénicas. Em contrapartida se não foram encontrados indicadores de contaminação fecal na água, que são mais resistentes que os patogénicos, pode- se inferir que estes não estão presentes, e logo a água não se encontra bacteriologicamente contaminada. Características que os indicadores de contaminação fecal devem apresentar:
estar presentes sempre que haja micro-organismos patogénicos na água, e estar ausentes em água não contaminadas;
devem encontrar-se num número muito superior ao dos micro-organismos patogénicos; - devem ser mais resistentes às condições ambientais e processos de tratamento que os patogénicos;
o isolamento, contagem e identificação dos indicadores deve ser fácil. Os indicadores microbiológicos de contaminação fecal utilizados com maior significado são os coliformes totais e fecais, os estreptococos fecais e os clostrídios sulfitoredutores, por apresentarem graus de resistência distintos às condições ambientais, permitindo concluir sobre a origem e momento em que ocorre a contaminação fecal.
Deverão ser realizadas análises a estes micro-organismos tanto nas Estações de Tratamento de água, como na redes de distribuição de água, por forma a averiguar da eficiência da desinfeção , garantindo que a água é bacteriologicamente segura. Se a entidade responsável pela distribuição da água detetar estes micro-organismos, deverá de imediato tomar as medidas necessárias para assegurar que a água que chega ao consumidor têm as condições de potabilidade necessárias, e tem de dar conhecimento da situação às Autoridades de Saúde competentes. Ver coliformes fecais, clostrídios sulfitoredutores, coliformes totais, estreptococos fecais, parâmetros microbiológicos.
Bactericida:
Substância utilizada para destruir bactérias, como alguns antibióticos, antisépticos e desinfetantes.
Bário:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, ocorre na natureza na forma de minerais de baratina e viterita. Pode ser utilizado na forma metálica como adsorvente em tubos de sistemas de vácuo, oxidando-se muito facilmente em contacto com a água. Compostos solúveis de bário são extremamente tóxicos, e os seus efeitos sobre a saúde manifestam-se ao nível do coração, vasos sanguíneos e nervos.
Barragem:
Construção que permite a retenção de grandes volumes de água numa albufeira, regularizando os caudais. Pode estar associada a aproveitamentos hidroelétricos , prevenção de cheias, sistemas de abastecimento de água para consumo humano ou para irrigação, e recreio. Atualmente têm sido procuradas cada vez mais as águas superficiais como origem de água para abastecimento, devido ao facto de os aquíferos terem pouca produtividade ou pela falta de qualidade da água, por sobre-exploração , intrusão salina ou contaminação, sobretudo agrícola. Desta forma, apesar de gerarem impactes negativos, as barragens são muitas vezes as alternativas mais acertadas para responder às carências de água, que tendem a aumentar com a crescente evolução populacional, contribuindo igualmente para restabelecer o equilíbrio das águas subterrâneas. Ver águas subterrâneas, águas superficiais, captação.
Berílio:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas, com origem em águas residuais industriais, podendo ser utilizado no fabrico de ligas com cobre, usadas em reatores nucleares; óxidos de berílio são usados na cerâmica e em reatores químicos. Este metal é resistente à oxidação pelo ar, mas reage com ácidos diluídos (clorídrico e sulfúrico), e precipita a determinado pH, podendo estar envolvido em ciclos bioquímicos complexos. O berílio e seus compostos são tóxicos, podendo provocar dermatites e doenças pulmonares muito graves.
Bioacumulação/bioconcentração:
Processo de acumulação ou concentração progressiva de uma substância em cada etapa da cadeia alimentar, podendo pôr em risco a saúde do Homem e dos outros animais e vegetais. Também é utilizado para referência à capacidade que certas substâncias químicas têm para se acumularem ao longo do tempo em organismos vivos, em concentrações superiores às que se verificam na água ou alimento consumido (mercúrio, cádmio, chumbo, compostos organoclorados...).
Bomba:
Aparelho que fornece energia a um fluido por forma a deslocá-lo de um local/nível para outro, ou para aumentar a sua pressão. No caso das bombas centrífugas e das turbinas, os seus impulsores rotativos aumentam a velocidade do fluido e parte da energia que ele assim adquire é convertida em energia de compressão. As bombas de deslocamento (incluem pistões, êmbolos, engrenagens, hélices e bombas excêntricas) atuam diretamente sobre o fluido, obrigando-o a deslocar-se sob pressão. Ver estação elevatória de água.
Boro:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis que entra na composição de alguns detergentes, podendo integrar certos processos industriais, atingindo as águas por descargas de efluentes domésticos e industriais, mas raramente é encontrado nas águas de consumo humano. Se for ingerido na forma de borato ou de ácido bórico, o boro é absorvido quase completamente no trato intestinal. Se estiver presente na água em concentrações próximas de 1μg/L não apresenta perigo, muito embora tenha uma afinidade para o sistema nervoso.
Bromato:
Subproduto da ozonização quando a água bruta contém o ião brometo, tóxico e potencialmente mutagénico a longo prazo. A sua taxa de formação depende da quantidade de matéria orgânica natural presente na água, da alcalinidade, e da dose de ozono aplicada.
Cádmio
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas com origens antropogénicas, como certas indústrias, nomeadamente a metalúrgica, curtumes, produção de plásticos, explorações mineiras, e pode também resultar de resíduos de pesticidas e fertilizantes. Este metal pesado é um dos mais perigosos poluentes ao nível dos recursos hídricos, é bioacumulável, e a sua ingestão pode ser fatal (a dose letal média é 0.027g/kg). Apesar de muitos dos efeitos que o cádmio potencialmente pode provocar não estarem suficientemente demonstrados, o envenenamento crónico está associado a danos no fígado, rins e coração (nomeadamente hipertensão), havendo uma perda gradual de cálcio nos ossos. Podem também surgir danos nos aparelhos genitais, e efeitos mutagénicos, teratogénicos e cancerígenos. A água destinada ao consumo humano só pode conter um teor muito baixo deste elemento, de preferência na ordem de 1μg/L. Nas regiões cuja água de abastecimento tem um valor baixo de pH, o teor em cádmio geralmente é superior, pois originam uma maior corrosão das condutas de chumbo e cádmio.
Cálcio:
Parâmetro físico-químico com origens geológicas, e cuja presença e concentração na água depende das formações rochosas por ela atravessadas, encontrando-se na forma de carbonato de cálcio nas rochas calcárias. O cálcio é o principal elemento presente na água que contribui para a sua dureza, não sendo nem sintetizado nem degradado pelo organismo humano, mas “deslocado” nos sistemas biológicos conforme as necessidades. Tem um papel fundamental na constituição do tecido ósseo, intervém no funcionamento dos músculos e vasos sanguíneos (vasoconstição), e ao nível neurológico na transmissão dos impulsos nervosos sendo um segundo mensageiro na transferência da mensagem entre células. Também intervém em muitas etapas da coagulação do sangue e em muitos outros domínios do funcionamento químico do organismo. Quando em excesso no sangue é sinal de morte celular, nomeadamente devido a tumores ósseos, ou de excesso de atividade da paratiroide . Níveis baixos podem, por sua vez, resultar de deficiência de vitamina D, doença renal, ou fraca atividade paratiroidea.
As fontes mais importantes para a sua assimilação são os alimentos, no entanto deve existir sempre um residual na água para consumo, que deveria ser próximo de 40 mg/L, pois teores reduzidos podem conduzir a doenças cardiovasculares. Ao nível do tratamento da água, esse residual tem de ser controlado visto que teores elevados traduzem-se na formação de depósitos de carbonato de cálcio, e teores reduzidos podem conduzir a situações de corrosão. Por vezes, quando a água é pouco mineralizada, torna-se mesmo necessário proceder-se à sua adição, por recarbonatação/remineralização.
Nota: dado que os vários tipos de água para consumo à sua disposição têm origens diferentes (superficiais e subterrâneas destinadas ao consumo humano, águas minerais naturais e águas de nascente), também os seus teores em sais minerais são por vezes bastante diferentes. Neste sentido, é aconselhável que alterne o consumo de água, sobretudo se beber água com baixo teor em cálcio, ou com elevado teor em sódio, pois o equilíbrio desses minerais é fundamental para o bom funcionamento do organismo.
Carbonato de cálcio (CaCO3):
Composto muito pouco solúvel na água que se decompõe por aquecimento formando óxido de cálcio (CaO - cal viva) e dióxido de carbono. é utilizado na produção de cal. Em termos sanitários, consoante as características da água para consumo humano, pode ser necessário controlar o seu pH por forma a que não ocorra a formação de depósitos de calcário, quando a água é muito dura, ou fenómenos de corrosão, por dissolução dos carbonatos, quando há deficiência destes compostos (água agressiva). Ver água agressiva, água dura, dureza total, amaciamento, correção da agressividade.
Ideias: como o calcário se deposita mais facilmente a temperaturas superiores a 60°C, utilize os seus eletrodomésticos a temperaturas inferiores, ou use produtos anticalcário; para lavar recipientes que tenham depósitos de calcário, use uma mistura de sal grosso e álcool de vinagre branco.
Carbono:
é um elemento não metálico, componente fundamental da matéria viva, juntamente com o hidrogénio, oxigénio e azoto. Está presente na atmosfera na forma de anidrido carbónico (CO2), e é introduzido na matéria viva pela fotossíntese. Na natureza pode encontrar-se sob a forma de diamante, extremamente duro e com cristais altamente refrativos, e de grafite, substância mole, boa condutora de calor e eletricidade.
Carbono orgânico total (COT):
é uma medida da matéria orgânica presente na água, sendo um indicador da sua degradação. A maior parte dos compostos orgânicos são substâncias húmicas, procedentes da degradação microbiana e química de carbohidratos de lenhina e taninos de origem vegetal. Estes dois produtos combinados formam o húmus (poliheterocondensados amorfos). Outras fontes naturais de substâncias orgânicas presentes na água são os micro-organismos e produtos do seu metabolismo (metabolitos), e ainda os resíduos petrolíferos (metano, hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, etc.), que podem contaminar aquíferos situados nas proximidades dos depósitos naturais. Esta técnica permite detetar quantidades de matéria orgânica inferiores a 0.1 mg/L, mas sem distinguir entre carbono biodegradável e não biodegradável, nem determinar o grau de biodegradabilidade de cada substância. Não tem significado específico em termos sanitários. Segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo humano qualquer causa de aumento das concentrações habituais deverá ser investigada.
Carcinogénio/cancerígeno:
Qualquer agente que provoque cancro, como o fumo do tabaco, certos químicos industriais (p.e., cloreto de vinilo, benzeno), radiação de ionização (p.e., raios-X e raios ultravioleta). A maior parte é também mutagéneo e teratogéneo.
Captação:
Local onde a água bruta é obtida, devendo ser o local mais adequado para obtenção de uma água com qualidade e quantidade, por forma a que após o tratamento, sejam cumpridas as disposições legais, consoante o fim a que se destina. Devem ser respeitados os recursos hídricos disponíveis, e ecossistemas envolventes.
No caso das águas superficiais, a captação deve ser feita a montante das fontes poluidoras e da população a abastecer, situando-se normalmente na parte central do curso de água, e próxima da superfície.
Carvão Ativado:
Utilizado como adsorvente em certas Estações de Tratamento de água, para a eliminação de microcontaminantes (principalmente THM), cheiros e sabores, hidrocarbonetos, pesticidas, detergentes e metais pesados. Costuma ser utilizado ou em pó, diretamente num reator, ou em grãos, na forma de leito, sendo que as suas propriedades como adsorvente variam num caso e noutro. Assim, no caso do carvão ativado em pó (PAC), as suas principais propriedades físicas são a filtrabilidade e densidade, tendo que se tomar as precauções necessárias para que não contamine a água filtrada. Quanto ao carvão ativo granulado (GAC), as propriedades físicas mais importantes são a dureza e o tamanho dos grãos. Ver adsorção.
Caudal:
Quantidade de substância que passa num determinado ponto por unidade de tempo. Há diversas formas de quantificá-lo, mas relativamente à água é mais comum utilizar o caudal volúmico, expresso por m3/dia ou L/s. A sua medição é feita por intermédio de contadores/caudalímetros.
Cheiro:
Parâmetro organolético que representa a deteção de substâncias voláteis contidas na água, podendo dever-se à existência de compostos orgânicos, sais inorgânicos ou gases dissolvidos, de origens domésticas, agrícolas ou naturais, estando portanto associado ou à contaminação na origem ou a um tratamento deficiente da água.
Chuvas ácidas:
águas da chuva carregadas de ácido sulfúrico, nítrico ou clorídrico, que existem na atmosfera fundamentalmente devido à poluição industrial, através da queima de combustíveis, e à incineração de resíduos sólidos. Por vezes essa queda de água dá-se sob a forma líquida acidificada, ou sob a forma de depósitos secos. As chuvas ácidas danificam os ecossistemas que atingem, nomeadamente florestas, rios e lagos e águas subterrâneas, e provocam a corrosão de diversos materiais de edifícios. No nosso país os seus efeitos são atenuados pela existência de formações rochosas que provocam o afastamento das massas de ar contaminadas oriundas dos países europeus fortemente industrializados.
Chumbo:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas com origem fundamentalmente industrial, utilizando-se por exemplo, em baterias, ligas, balas, pesticidas, gasolina convencional, tintas e materiais de construção, nomeadamente nas redes prediais de distribuição de água e ramais de ligação construídas até há cerca de 50 anos. Juntamente com o mercúrio e o cádmio, é um dos poluentes da água que representa maiores riscos para a saúde pública. Trata-se de um poderoso neurotóxico, mesmo em pequenas concentrações, com tendência à bioconcentração, afetando igualmente os músculos, os sistemas cardiovascular e renal, etc.. Um envenenamento agudo por chumbo provoca dores de estômago, de cabeça, tremuras, irritabilidade (estado conhecido por Saturnismo) e ,em casos graves, coma e morte. A dose letal para os ratos é de 0.15 g/kg. Ainda que o chumbo que ingerimos tenha várias procedências, estudos mostram que um aumento médio de 25 μg/L de sangue corresponderia a uma concentração média de 100 μg/L de água para consumo. As água ácidas, ricas em dióxido de carbono, podem ter um poder dissolvente nas canalizações de chumbo antigas, podendo causar concentrações na ordem das centenas de μg/L, daí o risco de contaminações letais.
Ideia: Se a sua canalização for antiga, não beba, nem utilize para preparar alimentos as primeiras águas da torneira, pois a água esteve parada a noite inteira em contacto com as paredes da tubagem, podendo haver a dissolução de chumbo e de outros elementos que podem ser prejudiciais à saúde. Mas não se esqueça de aproveitar essas águas para outros fins!
Cianetos:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas de origem industrial, nomeadamente a metalurgia, produção de plásticos e fertilizantes. A sua maioria é biodegradável, podendo ser removidos dos efluentes por tratamento químico antes da sua descarga no corpo de água recetor (o cloro geralmente decompõe eficazmente os cianetos remanescentes que possam ainda estar presentes na água bruta. No entanto, quando presentes, são substâncias facilmente absorvidas pelos organismos, apresentando um grau de toxicidade muito elevado, podendo a sua ingestão ser fatal. A intoxicação crónica caracteriza-se por problemas da tiroide e do sistema nervoso. A sua ação consiste basicamente no bloqueio dos mecanismos de oxidação da células carótidas e aórticas, o que leva à acumulação de produtos anaeróbios como o ácido láctico, estimulando a respiração. No entanto, como os cianetos se combinam com o grupo do ferro catalítico da enzima citocromo-oxidase, impede a transferência de eletrões para o oxigénio molecular, inibindo a sua absorção pelas células (asfixia). Por outro lado, também podem surgir convulsões e mesmo o coma devido ao aumento de ácido láctico encefálico por ausência de oxidação da glucose.
Cianobactérias/Cianofíceas/algas azuis:
Organismos procarióticos (desprovidos de núcleo), cujas paredes celulares são compostas por camadas de peptidoglicanos e lipopolissacáridos ao contrário das algas que têm paredes celulósicas. Estas algas tomam a designação de cianobactérias, visto que têm pigmentos fotossintéticos como as algas, mas apresentam características fisiológicas semelhantes às das bactérias. Estas espécies são capazes de selecionar as profundidades em que as condições são mais favoráveis ao seu crescimento, podendo, por isso, encontrar-se a qualquer profundidade. Têm a capacidade de fixar o azoto atmosférico por isso, quando o azoto é o fator limitante (o que implica que há muito fósforo), é necessário reduzir a concentração de compostos de fósforo. As condições em que normalmente produzem toxinas (neurotoxinas, hepatotoxinas e toxinas irritantes ao contacto direto) ainda não estão bem esclarecidas, mas sabe-se que pode ocorrer o colapso das suas florescências devido: ou ao esgotamento de nutrientes, ou à diminuição da temperatura, ou à diminuição da intensidade luminosa. Há alguns aspetos detetáveis à vista desarmada, como a coloração e cheiro das florescências acumuladas nas margens das massas de água, que podem servir de alerta para situações graves, sobretudo nos locais de captação de água para abastecimento, mas também em qualquer local em que haja contacto com animais e pessoas: uma florescência recente apresenta em aspeto de tinta (a cor varia desde verde escuro ao castanho avermelhado, consoante o género de organismo em causa) e um cheiro semelhante ao da relva recentemente cortada. Uma florescência mais “velha” apresenta um cheiro semelhante ao das silagens fermentadas ou mesmo a lixo. Ver algas, bactérias, carvão ativado, toxinas.
Curiosidade: as cianobactérias apareceram seguramente há cerca de 2000 milhões de anos, e algumas constituem possivelmente os ancestrais dos cloroplastos (organitos próprios das plantas que contém clorofila, onde se processa a fotossíntese).
Ciclo Hidrológico ou Ciclo da Água:
Pode ser definido como uma sequência fechada de fenómenos através dos quais a água passa do globo terrestre para a atmosfera na fase de vapor, onde permanece em média 8 dias, e regressa ao mesmo nas fases líquida e sólida. Este movimento da água é mantido pela radiação solar e pela atração gravítica.
A água é transferida para a atmosfera de duas formas: por evaporação das massas de água (oceanos, rios, lagos,...), ou por transpiração de animais e plantas. Ao conjunto destes dois fatores chama-se evapotranspiração. à medida que o ar húmido sobe, arrefece, e quando em quantidade suficiente, ocorre a sua condensação em pequenos cristais, que crescem formando gotas, ou flocos de neve. Estes, ao atingirem peso suficiente caem, ocorrendo a precipitação, sob a forma de chuva, granizo ou neve. à medida que a precipitação atinge a superfície terrestre, a água pode tomar dois caminhos: alimentar diretamente os cursos de água (riachos, ribeiras, lagos, rios, mares e oceanos), constituindo o escoamento superficial, podendo haver a sua interceção em edifícios, poças, etc., ou penetrar nos solos por infiltração, indo constituir a reserva de água superficial que alimenta a evapotranspiração, ou atingir os lençóis de água subterrânea, os quais dependendo da estação do ano, podem alimentar os rios. As plantas absorvem a água do solo, e o Homem e os animais consomem a água doce, eliminando-a pela transpiração, por excreções várias e quando morrem. O Homem ainda a rejeita sob a forma de resíduos sólidos e águas residuais (domésticas, agrícolas e industriais), que atingem os cursos de água, e o solo.
A soma das evaporações igual à soma das precipitações, e ainda que chova mais do que se evapora nos continentes, e menos do que se evapora nos oceanos, os continentes reenviam o excedente para os oceanos, e o ciclo da água acaba por se equilibrar. é devido a estes fenómenos que a água que existe atualmente é a mesma que existia há muitos milhões de anos! Ver escoamento superficial, evaporação, infiltração, precipitação.
Cloração/cloragem:
Tratamento de água com cloro para sua oxidação ou para a desinfeção. Muito embora o principal objetivo da cloração seja a destruição de micro-organismos, graças ao poder germicida do cloro, o seu poder de oxidação é de grande importância, nomeadamente quando utilizado na pré-oxidação da água bruta. Promove a oxidação de substâncias inorgânicas reduzidas, como o ferro, manganês, e sulfuretos, elimina compostos que produzem cheiro e sabor, algas e micro-organismos, e tem um efeito de coadjuvante da coagulação. Ver cloro, desinfeção, oxidação, pré-cloragem.
Cloretos:
Parâmetro físico-químico que pode ter várias origens. é um dos aniões predominantes na água, e ocorre naturalmente nos meios hídricos sob a forma de sais (p.e., de sódio, potássio e cálcio), podendo alcançar as águas doces por intrusão salina ou pelos efeitos das marés, às vezes atingindo concentrações excessivas. Também podem ser sinal de contaminação, pois encontram-se em grandes quantidades nas excreções humanas e animais (podendo mesmo utilizar-se como indicador de contaminação fecal). Outras origens dos cloretos são os efluentes industriais, escorrências ou infiltração através de alguns tipos de solos e condições climatéricas (sendo transportados pelas chuvas ou ventos). A sua presença em valores elevados causa efeitos nefastos, tornando a água imprópria para consumo e para a rega. Ao nível do consumidor, e quando em concentrações elevadas, a sua presença manifesta-se principalmente ao nível das características organoléticas , conferindo um sabor desagradável, e provoca a corrosão de tubagens. Valores muito elevados, acima de 200 mg/L, podem ter consequências cardiovasculares.
Cloro: é um gás muito tóxico, de cor amarelo-esverdeado, abundante na natureza na forma de cloreto de sódio na água do mar. Tem muitas aplicações como oxidante e desinfetante, nomeadamente no controlo da contaminação da água causada por micro-organismos patogénicos, como bactérias, vírus, fungos, protozoários e suas formas resistentes, mas também como branqueador e na produção de um grande número de químicos orgânicos. Além de ser o desinfetante por excelência, é muitas vezes utilizado na pré-oxidação da água nas ETA’s, melhorando as fases de tratamento seguintes, e reduzindo a dosagem a aplicar na desinfeção final. O seu uso tem, no entanto, que ser bem ponderado devido à formação de subprodutos como é o caso dos trihalometanos, resultantes da sua reação com as substâncias orgânicas contidas na água bruta. O uso de cloro no tratamento da água também pode originar a formação de compostos que conferem sabor e cheiro desagradáveis, mesmo a baixas concentrações, como é o caso dos clorofenóis. Ver cloro residual disponível, desinfeção , pré-cloragem, trihalometanos.
Ideias: Se a água que sai da torneira souber a cloro, pode eliminá-lo colocando a água numa jarra ou garrafa coberta, p.e., com um guardanapo, e dentro do frigorífico, ou adicionar algumas gotas de sumo de limão, que disfarça o sabor. Não se esqueça de lavar o recipiente em que coloca a água após cada utilização, e renove a água de dois em dois dias.
Cloro residual disponível:
O cloro é utilizado para a desinfeção da água de abastecimento destinada ao consumo humano, ou seja, para destruir ou inativar todos os micro-organismos patogénicos existentes.
O cloro pode ocorrer na natureza com vários estados de oxidação, e desses apenas os compostos que têm números de oxidação positivos podem apresentar características desinfetantes, daí a designação de cloro disponível para desinfeção /desinfetante/ativo. Ao se aplicar o cloro à água a desinfetar, ocorrem reações de oxidação entre o cloro e vários tipos de compostos (compostos inorgânicos reduzidos; compostos produtores de cheiros e sabores; algas e micro-organismos), formando-se compostos clorados, nem todos com poder desinfetante. Além disso, o cloro disponível para desinfeção , pode estar combinado ou não, pelo que é comum a distinção entre cloro disponível livre (na forma de cloro molecular, de ácido hipocloroso, de ião hipoclorito ou de uma mistura destas três formas) e cloro disponível combinado (cloro quimicamente combinado com amoníaco ou com compostos orgânicos cloroazotados, formando cloraminas), com menor poder desinfetante.
A concentração de cloro disponível na água vai variando com a dose de cloro aplicada, variação essa que não é linear. Só a partir de determinada dosagem existe cloro residual livre, disponível para a desinfeção , o qual deve ser mantido ou mesmo aumentado tanto na ETA (completando a oxidação de compostos difíceis de degradar) como no sistema de distribuição, por forma a garantir proteção contra qualquer contaminação posterior que a água possa sofrer até chegar ao consumidor (o cloro tem tendência a desaparecer da água em função do seu tempo de permanência nas condutas, e muitas vezes o trajeto desde a ETA até aos reservatórios é de alguns quilómetros).
O cloro residual presente na água ao nível do consumidor deverá ter uma concentração próxima de 0.2-0.3 mg/L, segundo a OMS, valores que não oferecem qualquer toxicidade para o consumidor, mesmo que ligeiramente superior, muito embora possam ocorrer algumas colites e acidentes patológicos. Ver desinfeção , THM’s.
Clorofila:
Um dos dois pigmentos (clorofila α e clorofila β) responsável pela cor verde da maioria das plantas. As moléculas de clorofila têm o papel fundamental na absorção de luz nas reações de fotossíntese. Ver fotossíntese.
Clostrídios sulfitoredutores:
São bactérias indicadoras de contaminação fecal, de morfologia bacilar (em forma de bastonete), gram positivas, anaeróbias obrigatórias, com capacidade de formar endosporos, e com atividade sulfitoredutora (reduzem o sulfito de sódio na presença de sais de ferro, produzindo sulfureto de hidrogénio). A pesquisa de bactérias sulfitoredutoras deve limitar-se ao Clostridium perfrigens, pois é a única espécie do género que pode ter origem fecal. No entanto, a presença destas bactérias na água indica a possibilidade de haver uma contaminação antiga, já que são micro-organismos produtores de esporos, o que os torna muito mais resistentes que os C.F. e C.T.. A sua existência é pois especialmente importante na verificação da eficiência das etapas de floculação/filtração. O seu número na água é muito inferior que o de C.T. e E.F., mas em águas com poucos E.F. pode levantar suspeitas da existência de uma contaminação antiga, o que se pode confirmar, por exemplo, com um diagnóstico indireto pela presença de bacteriófagos fecais.
Segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo humano devem estar ausentes.
Coagulação:
O processo de coagulação/floculação é apoiado nas câmaras de mistura rápida, e tem como objetivo eliminar as partículas em suspensão que conferem turvação e cor à água, que provocam sabores e cheiros, bactérias e outros micro-organismos, algas e outros organismos planctónicos (partículas coloidais). Pode-se definir a coagulação química como um processo de desestabilização dos coloides por meio de reagentes químicos que anulam as forças repulsivas, e faz- se por adição de um coagulante (p.e. sulfatos e policloretos de alumínio, cloretos férricos, etc.) o qual é rapidamente disperso na massa líquida, neutralizando as cargas superficiais negativas dos coloides . Desta forma ocorre a sua agregação a outras partículas que crescem, formando flocos, e ganham um peso tal que permite a sua separação da fase líquida por sedimentação.
Há diversos fatores que intervém no processo de coagulação química, os quais estão diretamente relacionados com a qualidade da água bruta, sobretudo: tipo e a quantidade de coagulante a utilizar, temperatura da água, tempo de mistura, pH, alcalinidade. Ver coagulante, floculação, mistura rápida, partículas coloidais.
Coagulante:
As partículas coloidais que existem na água bruta têm dimensões muito pequenas para sedimentarem num período de tempo razoável, pelo que a filtração, por si só, não é suficiente para as eliminar, por não ser possível retê-las no meio filtrante. Além disso, devido às suas cargas superficiais negativas, repelem-se umas às outras, mantendo-se em suspensão. Então, para ser possível a sua sedimentação, utiliza-se um reagente químico – coagulante -, que no caso das águas para consumo humano é geralmente um sal de alumínio ou ferro (sulfato de alumínio, policloreto de alumínio, etc.) promovendo a coagulação/floculação. A adição do coagulante é acompanhada por agitação mecânica para uma rápida e homogénea dispersão na massa de água.
Principais propriedades que o coagulante deve ter :
catião trivalente, que é o mais eficiente na neutralização das cargas negativas dos coloides (Al3+, Fe3+); não tóxico; deve formar precipitados por forma a que o catião não permaneça na água.
O tipo de coagulante a utilizar e a sua dosagem dependem obviamente das características da água bruta, sendo efetuados testes em laboratório para a sua determinação (“Jar test”). A sua otimização é de grande importância pois o alumínio residual na água ao nível do consumidor deve ser o menor possível. Ver alumínio, coagulação, floculação.
Curiosidade: o sulfato de alumínio é o coagulante atualmente mais utilizado no tratamento de água destinada ao consumo humano, e já é conhecido desde o tempo dos Egípcios, 2000 A.C., tendo sido comercializado até 1461, quando o Papa Pio II se propôs a criar o monopólio da sua produção. A sua utilização como coagulante em grandes sistemas de abastecimento de água só teve lugar em 1881, em Bolton (Inglaterra).
Cobalto:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, tem origens antropogénicas (certas indústrias) e naturais (rochas do tipo silicioso). Em termos dos seus efeitos sobre a saúde, atua sobre o sistema neurovegetativo e cardiovascular, sendo considerado o agente indutor do bócio.
Cobre:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis com origens antropogénicas, sendo raramente encontrado em águas não poluídas. A sua principal fonte na água para consumo é a corrosão que pode ocorrer nos sistemas de distribuição. é um elemento essencial ao Homem, entrando na formação dos eritrócitos (glóbulos vermelhos), na libertação do ferro tecidular, desenvolvimento dos ossos, do sistema nervoso central e do tecido conjuntivo. Dado que os alimentos contém um elevado teor neste elemento, não é comum a ocorrência de carências. Uma curta exposição, por ingestão de doses excessivas, pode causar problemas gastrointestinais, e uma exposição a longo prazo afeta os sistemas nervoso e renal, por irritação e corrosão graves das mucosas, afetando os vasos capilares, causando também lesões hepáticas, e uma irritação do sistema nervoso seguida de estados de depressão. Se as suas concentrações forem superiores a 5 mg/L há a alteração das características organoléticas da água, conferindo-lhe um sabor adstringente desagradável, e há pessoas que para valores superiores a 3 mg/L sofrem de irritação gástrica aguda. As lesões hepáticas geralmente ocorrem em indivíduos com deficiências no mecanismo de regulação do cobre, e a longo prazo, ou em bebés, pois neles o metabolismo do cobre ainda não está totalmente desenvolvido. Em termos dos seus efeitos nos sistemas de distribuição de água para consumo, há o aumento da corrosão quando os materiais são de ferro galvanizado, aço, zinco e alumínio, produz manchas na roupa e loiça sanitária se a concentração for superior a 3 mg/L, e provoca o enegrecimento de alimentos durante a cozedura.
Coliformes:
Bactérias muito comuns no Ambiente, sendo desde há muito utilizadas como indicadores de contaminação fecal, devido à simplicidade de análise e deteção , mesmo quando presentes em baixo número. Este grupo contém espécies que se multiplicam na água, mas não têm origem fecal, e outras termotolerantes, como a Escherichia coli, utilizada como bactéria indicadora de contaminação fecal.
A sua presença na água para consumo pode indicar deficiências no processo de tratamento, ou ocorrência de contaminação da água após tratamento. Ver bactérias indicadoras de contaminação fecal, coliformes totais e fecais.
Coliformes Fecais (C.F.):
São bactérias indicadoras de contaminação fecal e integram os coliformes totais que sejam capazes de fermentar a lactose com produção de ácido e gás quando incubam em meio apropriado a 44°C em 24 horas (são termotolerantes). Os seus habitats são as fezes humanas e animais, águas superficiais poluídas e águas residuais.
Os C.F. encontram-se em maior número que os E.F. nas fezes humanas.
Coliformes totais (C.T.):
São bactérias indicadoras de contaminação fecal, de morfologia bacilar (em forma de bastonete), gram negativas, aeróbias e/ou anaeróbias facultativas, com reação de oxidase negativa, não esporuladas e capazes de fermentar a lactose com produção de ácido e gás em 48 horas a 37°C. São exemplos os géneros Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter.
A concentração de coliformes totais nas águas naturais depende da temperatura da água e do arraste de terras e solos causado pelas chuvas, o que leva à entrada de águas turvas no meio hídrico. Então, valores elevados de turvação e de matéria orgânica podem ser sinais de um número elevado de coliformes totais, pois este tipo de micro-organismos desenvolve-se na sua presença. No entanto, certas espécies estão frequentemente associadas a restos vegetais ou constituem uma população habitual não só de águas superficiais como do solo. Assim, a sua presença não significa necessariamente a existência de organismos de origem fecal, especialmente em países quentes onde os coliformes de outras origens podem ser abundantes.
Os C.T. assumem grande importância nas águas de abastecimento tratadas e desinfetadas com cloro, sendo os melhores indicadores de contaminação global por materiais de origem fecal.
Composto: Substância formada pela combinação de elementos em proporções fixas. Ao contrário das misturas, não podem ser separados por meios físicos.
Concentração:
Quantidade de determinada substância dissolvida (soluto) por unidade de quantidade de solvente em solução. Pode ser medida de várias formas, mas relativamente aos parâmetros referidos a expressão mais comum é a de concentração em massa, i.e., massa do soluto por unidade de volume de solvente, nomeadamente Kg/dm3, mg/L (ou ppm), μg/L (ou ppb).
Condutividade:
Parâmetro físico-químico que mostra o conteúdo salino da água, por medição da carga de corrente elétrica da solução aquosa, que depende das substâncias de caráter iónico presentes, permitindo apreciar diretamente a mineralização dessa água. Por exemplo, um água que apresente um condutividade entre 200 e 700 apresenta uma mineralização média. Em termos de saúde pública não oferece, por si só, perigos, mas consoante a natureza das substâncias pode apresentar riscos para o consumidor. Valores elevados podem conferir sabores desagradáveis à água, e conduzir à formação de depósitos e/ou corrosão de tubagens.
Contaminação:
Qualquer alteração na composição ou estado da água como consequência direta ou indireta das atividades humanas, tornando-a inadequada para o seu uso. Além dos riscos diretos de contaminação, há que considerar igualmente os indiretos, como p.e. os ambientais, a eutrofização e a contaminação de alimentos.
Contaminação antropogénica:
Resulta da atividade do Homem, e deve-se sobretudo ao desenvolvimento industrial. Os danos causados tanto aos seres vivos, como ao ambiente onde estes agentes são descarregados, devem-se não só às características destes, mas também à sua elevada concentração.
Contaminação natural:
A água na natureza não se encontra pura, já que contém várias substâncias que resultam do equilíbrio dinâmico da Terra, atividade geofísica e ciclo hidrológico, que levam à deposição atmosférica e a arrastamento dessas substâncias.
Controlo da qualidade da água de abastecimento:
As entidades responsáveis pela gestão dos recursos hídricos em sistemas naturais ou as entidades gestoras dos sistemas de abastecimento de água destinada ao consumo humano empreendem uma conjunto de ações de avaliação da qualidade da água de uma forma regular de modo a que esta mantenha a sua qualidade de acordo com os padrões ou normas regulamentados. No que respeita à qualidade da água para consumo humano, as entidades responsáveis fazem o seu controlo da qualidade analisando uma série de parâmetros estipulados pela Lei.
Cor:
Parâmetro organolético , que embora por si só não seja significativo em termos de saúde pública, é esteticamente desagradável, e sugere que a água requer um tratamento adequado. Normalmente, as cores mais associadas à água bruta são o amarelo e o castanho, as quais se devem à presença de óxidos de ferro e de manganês, que permanecem estáveis por estarem ligados a biofilmes. Geralmente, e no caso de a água bruta não se encontrar poluída, a sua cor é causada pela presença de ácidos húmicos e fúlvicos. Se ocorrer poluição industrial, a água bruta pode apresentar uma gama de cores muito variada. Se a cor se dever à presença de substâncias orgânicas dissolvidas ou coloidais, designa-se cor verdadeira, e se for devida a materiais em suspensão, cor aparente. Esporadicamente, o desenvolvimento excessivo de algas ou de micro-organismos aquáticos podem igualmente conferir cor à água. Uma água tratada que tenha compostos de ferro ou manganês, de origem ou devido a fenómenos de corrosão das tubagens com que contacta, pode ter o inconveniente de causar manchas na roupa e loiça.
Correção da agressividade:
Se a água a distribuir para consumo humano apresentar características agressivas tais que possam provocar a corrosão de vários componentes do sistema de abastecimento, torna-se necessário proceder à correção do seu pH final, após filtração. Geralmente esta é feita com suspensão de leite de cal, que sendo alcalina eleva o pH da água. A neutralização do dióxido de carbono agressivo permite diminuir ou eliminar uma das causas deste ataque eletroquímico , pelo que o aumento da alcalinidade, ou a presença de sais derivados de ácidos fracos originam a deposição de uma película que protege a estrutura da corrosão. Ver água agressiva, correção do pH da água, remineralização.
Correção do pH da água:
Ou neutralização, é feita para restabelecer o equilíbrio carbónico da água, com a finalidade de proteger as condutas da corrosão ou das incrustações, consoante a água for agressiva ou dura, respetivamente. Numa ETA, no caso de ser necessário elevar o pH, pode-se utilizar suspensão de leite de cal na fase de floculação, ou após filtração .Ver correção da agressividade, corrosão.
Corrosão:
Pode dever-se ao ataque químico ou eletroquímico à superfície de um metal. Sendo a água o solvente universal, pode existir em solução uma grande variedade de substâncias e gases. Se a água for pouco mineralizada, destilada ou dessalinizada, ou seja, com poucas substâncias dissolvidas ou nenhumas, então trata-se de uma água agressiva para os metais e para o cimento. O facto de uma água apresentar características corrosivas deve-se fundamentalmente a um pH baixo, a uma elevada concentração de dióxido de carbono livre, ou à ausência ou baixo valor de alcalinidade. O enferrujamento é a corrosão do ferro (ou aço), formando-se um óxido de ferro, e ocorre na presença tanto de água como de oxigénio.
Se existirem condições anaeróbicas, i.e., a ausência de oxigénio, pode haver o desenvolvimento de bactérias sulfatoredutoras (Desulfovibrio desulfuricans), causadoras da corrosão de estruturas de ferro, devido à ação do sulfureto de hidrogénio que produzem, tendo como produto final o sulfureto de ferro.
Também pode ocorrer corrosão física de condutas, bombas e válvulas devido à cavitação, fenómeno hidráulico que se deve à existência de grandes velocidades da água no interior de condutas, e que pode causar a erosão da sua superfície. Ver agressividade, anidrido carbónico, golpe de aríete.
Crómio:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas, com origens naturais (rochas e solos, em pequenas concentrações) e industriais. é um elemento essencial à vida, sendo que a ingestão de pequenas quantidades (na ordem de vários microgramas) é considerada como útil ao metabolismo da glucose, havendo mesmo quem afirme que exerce uma ação protetora contra a arteriosclerose. Contudo, é um elemento tóxico, sobretudo aos níveis hepático e renal, podendo ser cancerígeno (especialmente via respiratória). A sua forma hexavalente é mais tóxica que a trivalente.
Decantação:
Separação das fases líquida e sólida, devido à deposição das partículas sólidas em suspensão na água. Esta deposição é resultado da forte diminuição da velocidade de escoamento, o que provoca a queda dos flocos mais pesados, por ação da força gravítica, por terem um peso específico superior ao da água. Os flocos mais leves podem ainda ser retidos em lamelas inclinadas, se o decantador for do tipo lamelar.
Os flocos são extraídos do decantador sob a forma de lamas com a ajuda de uma ponte raspadora, sendo espessadas mecanicamente e posteriormente conduzidas ao seu tratamento. Uma fração destas lamas pode ser recirculada para as câmaras de floculação por forma a favorecer o contacto entre as partículas coloidais e os flocos já formados.
A água decantada sai do decantador por descarga de superfície e segue para a fase seguinte – filtração. Ver desidratação das lamas, filtração, flocos, lamas.
Decomposição:
Reação química na qual um composto se separa em compostos mais simples ou em elementos.
Degradação:
Tipo de reação química orgânica na qual um composto é convertido em compostos mais simples por etapas.
Desidratação das lamas:
As lamas produzidas nos processos de tratamento da água para consumo provém da coagulação/floculação, sendo extraídas dos decantadores, e ainda da água de lavagem dos filtros, após a sua equalização e decantação. As lamas sofrem condicionamento com suspensão de leite de cal e polielectrólito, sendo assim concentradas antes de se proceder à sua desidratação, que fica assim mais facilitada. O método para realizar a sua desidratação é função do grau de humidade necessário para a sua deposição no ambiente, e logicamente dos custos envolvidos, sobretudo de transporte.
Há vários processos de desidratação das lamas, como os filtros banda, centrífuga e os filtros prensa. Relativamente aos filtros prensa, existentes nas ETA's dos Sistemas geridos pela águas do Algarve, S.A., estes são constituídos por 120 placas verticais revestidas com tela e sub-tela, as quais vão conter e suportar a lama. A lama condicionada é introduzida no filtro por bombagem, passando através dos conjuntos placa+revestimento em todo o seu comprimento, e preenchendo o espaço eles, onde forma o “bolo” de lama, que juntamente com a tela+subtela constitui o meio filtrante. A pressão vai aumentando gradualmente até que não há mais injeção de lama, pois tal pode ser contraproducente, e mantém-se esta pressão, período em que vai sendo retirado o filtrado, obtendo- se os “bolos” de lama seca pretendidos. O filtro é então aberto e a lama seca cai do espaço entre placas para os tapetes transportadores, sendo então conduzida para o seu destino final. As telas têm de ser frequentemente lavadas com água a alta pressão, e periodicamente com ácido, pois têm um elevado teor em cal, e os filtros funcionam a altas pressões (entre 700 e 1700 KPa). Ver filtração, lamas.
Desinfeção da água:
Tem como objetivo a inativação ou destruição dos micro-organismos patogénicos de transmissão hídrica, como as bactérias, vírus, protozoários e fungos, bem como as suas formas resistentes (esporos, cistos). Relativamente à água destinada ao consumo humano a desinfeção realizada nas Estações de Tratamento de água é geralmente feita com cloro gasoso, após filtração, e antes de distribuir a água para os consumidores. é uma medida de proteção contra possíveis contaminações da água que possam ocorrer ao longo da rede e até estar disponível ao consumidor, garantindo assim a sua potabilidade. Por vezes, devido à distância entre a ETA e os locais onde a água é entregue serem grandes, torna-se necessário fazer a sua recloragem.
Para o tratamento de menores volumes de água, e consoante o fim a que se destina a água, por vezes a sua desinfeção é feita por métodos físicos (energia térmica e as radiações de alta frequência, como a Radiação U.V.), ou por outros métodos químicos, nomeadamente com ozono. Ver cloro, ozono, radiação U.V.
Dessalinização:
Processo através do qual se removem os sais em excesso da água do mar, ou de outras fontes, por forma a poder ser utilizada para irrigação da terra ou para abastecimento de água para consumo público.
é um processo dispendioso, tendo sido utilizado em países ricos do Médio Oriente com problemas de falta de água, como a Israel. Os métodos empregues incluem evaporação, muitas vezes sobre pressões reduzidas (a água é evaporada, e o vapor é condensado, ficando os sais retidos no recipiente onde se deu a evaporação), congelação, osmose inversa, eletrodiálise e permuta iónica. Ver osmose inversa, salinidade e salinização.
Dióxido de cloro:
Gás de cor vermelho-amarelada, de cheiro forte, solúvel em água fria, mas decompõe-se em água quente, com a formação de ácido perclórico, cloro e oxigénio. Este composto pode ter várias aplicações, nomeadamente como branqueador, na moagem de farinha, polpação de madeira e, devido às suas propriedades de oxidante e desinfetante, no tratamento de água. O dióxido de cloro (ClO2) não deve ser armazenado, porque quando em concentrações superiores a 10 % (v/v) e uma vez exposto ao ar e a temperaturas elevadas (por exposição à luz), é explosivo. Este efeito também pode dever-se à sua reação com determinadas substâncias. Deste modo, o dióxido de cloro deve ser produzido no local de aplicação, produção essa feita na forma de solução aquosa, a partir de soluções de Clorito de Sódio e ácido Clorídrico, ou de Clorato de Sódio e ácido Oxálico. Comercialmente o gás é produzido pela reação de ácido sulfúrico contendo iões de cloro com dióxido de enxofre.
Vantagens da sua utilização no tratamento de águas para consumo humano:
Agente oxidante forte, com grande capacidade de melhorar o cheiro e a cor da água;
Comparativamente ao cloro, permite a desinfeção da água na presença de fenóis sem a formação de clorofenóis, e logo, sem a produção de sabores desagradáveis;
Ao contrário do cloro gasoso, o dióxido de cloro não reage com os precursores dos trihalometanos e apenas conduz a uma formação em pequena escala de outros compostos potencialmente tóxicos e /ou carcinogénios, o que é muito importante face à qualidade da água em questão;
O dióxido de cloro permanece na água na forma molecular nas gamas de pH características das águas naturais, e não reage com o azoto amoniacal e outros compostos azotados (ao contrário do cloro gasoso);
é muito efetivo na destruição de oocistos de Cryptosporidium.
O principal inconveniente da sua aplicação é que este composto contém uma quantidade considerável de cloro gasoso que pode produzir uma série de compostos indesejáveis. Os sub-produtos resultantes da sua aplicação são os cloritos (ClO2-) e cloratos (ClO3-), cujos efeitos sobre a saúde humana são ainda desconhecidos.
Dioxinas:
Grupo de mais de 200 compostos estreitamente relacionados, que surgem como consequência da incineração incompleta de resíduos cloretados e domésticos, combustão de plásticos e de gases em aterros e de processos de fabricação de produtos que abrangem fenóis cloretados.
Tal como certos compostos tóxicos que as nossas células não conseguem degradar (p.e. PCB’s, solventes, compostos industriais...), as dioxinas acumulam-se nos tecidos adiposos pois são solúveis nas gorduras. A produção de leite materno para amamentação dos bebés exige um elevado consumo de gordura, que é obtido recorrendo aos tecidos adiposos. Então, o organismo além de consumir essas reservas de gordura, vai também retirar as substâncias nelas acumuladas, incluindo as dioxinas que são os mais tóxicos de todos os compostos sintéticos conhecidos. Segundo estudos realizados em alguns países da Europa, a quantidade média de dioxinas no leite materno é cerca de 4 a 10 vezes superior à que seria permitida no leite de vaca para comercializar, e os bebés absorvem mais de 95 % das dioxinas que estão no leite. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice aceitável de ingestão de dioxinas é de 4 picogramas (equivalente a 10-12 g) por Kg de peso corporal.
Relativamente à sua presença na água para consumo, para se ter uma ideia, apenas 1 g de dioxinas num copo de água chegaria para fornecer a 100 milhões de pessoas a sua dose máxima admissível para a vida toda!
Os seus efeitos na saúde pública manifestam-se ao nível dos sistemas nervoso central, imunitário, dermatológico, reprodutor, afetando o funcionamento da tiroide , sendo potencialmente cancerígenas.
Distribuição de água:
Após desinfeção a água está pronta a ser distribuída até aos pontos de entrega (no caso dos sistemas de distribuição de água em alta, é designada por adução), e daí até aos reservatórios municipais, a partir dos quais a água é finalmente distribuída até aos consumidores (distribuição de água em baixa). Normalmente há a combinação do transporte gravítico com a bombagem da água.
A rede de adução e de distribuição deve ser de material que não altere as características de potabilidade da água com que contacta, e deve ser enterrada para evitar flutuações de temperatura, e situar-se acima da rede de saneamento para que não ocorram infiltrações, e a uma distância de segurança de tubagens de transporte de gás.
Sempre que possível a rede de distribuição de água deve permitir que a água circule de forma contínua, sem que ocorram retenções nas quais possa haver a perda do desinfetante. Para tal, devem evitar-se bifurcações, mudanças bruscas de direção , pontos de baixo consumo, etc.. A pressão na rede deve ser sempre positiva para evitar a sucção de águas contaminadas do subsolo por cortes no abastecimento, que podem gerar pressões negativas, as quais podem levar à rotura de condutas e pôr a população em perigo.
Para que seja possível efetuar o controlo da qualidade da água, a rede de distribuição deve ter locais de toma de amostras representativos, tanto das instalações como na rede de distribuição. Só desta forma é possível controlar a eficácia do tratamento na ETA, e assegurar que a água que chega ao consumidor apresenta as características de potabilidade requeridas.
Doenças transmitidas pela água:
A nocividade de uma água pode ser resultado da sua má qualidade e/ou de uma quantidade insuficiente. Estes dois fenómenos, quando em simultâneo, permitem a disseminação de doenças associadas à falta de higiene, pois a água é não só um veículo de transmissão de várias doenças (direta ou indiretamente), como também funciona como um reservatório onde os micro-organismos patogénicos vivem e se desenvolvem. Algumas dessas doenças são causadas por bactérias, vírus, protozoários, vermes (helmintas) e larvas, como por exemplo:
Bactérias: Febre tifoide , febre paratifoide , disenteria bacilar, cólera, gastroenterite, Leptospirose;
Vírus: Hepatite infeciosa, Poliomielite, gastroenterite vírica;
Protozoários: Amebíase ou disenteria amebiana, Giardíase, Isosporíase;
Vermes (helmintas) e larvas: Esquistossomíase, Esparganose,
Anquilostomíase, Ascaridíase, Equinococose, Tricocefalose.
Um sistema de abastecimento de água para consumo humano não deve conter micro-organismos patogénicos, tendo por isso de ser bem projetado, construído, operado, mantido e conservado, por forma a que a água não se torne nesse veículo de transmissão de doenças.
Dureza total:
Parâmetro físico-químico que exprime conjuntamente as concentrações de cálcio e magnésio presentes numa água. Valores elevados podem estar relacionados com menor incidência de acidentes cardiovasculares. As águas pouco duras são corrosivas e as muito duras provocam incrustações, nomeadamente em eletrodomésticos .
Efluentes:
Qualquer água residual de origem doméstica, agrícola ou industrial transportada ou não por uma rede de esgotos e lançada no meio natural ou numa Estação de Tratamento de águas Residuais (ETAR). Ver águas residuais.
Erosão:
Processo através do qual há a separação de partículas de rochas e solo da sua localização inicial, sendo transportadas e depositadas noutro local. Os principais agentes causadores da erosão são o vento e a água. Muito embora também exista erosão geológica ou natural (que é extremamente lenta), mais preocupante é sem dúvida a que deriva das atividades humanas.
Escoamento superficial:
Os fluxos de água superficial ocorrem sempre que cessa a infiltração da água que cai no solo, e constituem uma resposta rápida à precipitação, cessando pouco tempo depois desta. Estes fluxos variam muito com a natureza do solo onde se dá a precipitação, do seu teor de humidade (relacionado com as chuvadas anteriores), e sobretudo com a intensidade de precipitação. Esta água escoa-se sobre o solo, acumula-se em poças, regatos, ribeiras, acabando por alimentar os rios e por fim regressa ao mar. Do total da precipitação, este fluxo representa em média 24%. Ver ciclo hidrológico.
Estação de Tratamento de Água (ETA):
é uma verdadeira indústria da água. é o local onde se produz água potável a partir de água bruta. O processo de tratamento a implementar numa ETA depende da origem da água bruta (subterrânea ou superficial) e das suas características, e cada vez mais se recorre a técnicas sofisticadas, nomeadamente para a eliminação de gases, de matérias em suspensão, de moléculas orgânicas e de metais. Numa ETA convencional para tratar água de origem superficial, o processo de tratamento pode englobar as seguintes fases: Pré-oxidação, Coagulação/Floculação, Decantação, Filtração, Desinfeção , Correção do pH, Tratamento da águas residuais do processo (Decantação e Desidratação das lamas).
Estação Elevatória de água (EE):
Equipada com grupos elevatórios (bombas) que elevam a água até um ponto a partir do qual possa ser conduzida graviticamente. Por forma a regularizar o caudal e a pressão, a água elevada é geralmente armazenada num reservatório elevado, ou localizado num ponto de maior altitude, seguindo posteriormente o seu percurso graviticamente. Para a prevenção do “golpe de aríete”, que pode causar a rotura das condutas, devem existir sistemas com esse objetivo, como determinados tipos de válvula para o controlo da velocidade, e os reservatórios de ar comprimido, que permitem equilibrar a pressão no interior das condutas.
Estreptococos fecais (E.F.):
São bactérias indicadoras de contaminação fecal, de morfologia cocácea (forma esférica), gram positivas, aeróbias ou anaeróbias facultativas, sem catalase e fermentam a glucose com produção de ácido a 37°C num período de incubação máximo de 48 horas. São exemplos deste tipo de micro-organismos as espécies Streptococcus faecalis, S. faecium, S. durans, S. bovis e S.equinus. São indicadores secundários, especialmente quando se encontram C.T., e não C.F., o que confirmaria a contaminação do tipo fecal, pois têm origens várias além da fecal, como em vegetais, insetos e solos não contaminados.
Os E.F. encontram-se em maior número que os C.F. nas fezes dos animais, sobretudo domésticos e gado.
Segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo humano devem estar ausentes.
Eutrofização/Eutroficação:
Estado em que uma água superficial (lagos , rios ou mares) pode atingir por excesso de nutrientes (nitratos e fosfatos), que leva a um desenvolvimento excessivo de algas e plantas superiores, que ao consumirem o oxigénio dissolvido na água podem provocar a morte ao outros organismos aquáticos por asfixia ou colmatação. Os efeitos da eutrofização são:
- criação de cor, sabores e cheiros na água devido ao desenvolvimento excessivo de algas, o que implica maiores custos de tratamento;
- menores efeitos atrativos da água para recreio e desporto;
- assoreamento de canais de irrigação;
- morte de vida aquática.
Evaporação:
Este fenómeno do ciclo hidrológico reenvia para a atmosfera parte da água existente na superfície terrestre, durante e após a precipitação. A esta evaporação direta, associa-se a transpiração dos animais e da vegetação, enviando para a atmosfera parte da água que se infiltrou no solo. Ver ciclo hidrológico, evapotranspiração, precipitação, transpiração.
Evapotranspiração:
é a “soma” dos fenómenos evaporação direta e transpiração de animais e plantas, e representa, sem dúvida, o fluxo maior do total das precipitações, em média 65%. O seu único “motor” é a irradiação solar que fornece o calor de vaporização ao solo e às plantas. Ver ciclo hidrológico, evaporação, precipitação, transpiração.
Fenóis:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, com origens antropogénicas, nomeadamente através das águas residuais de indústrias de destilação de hulha, e petroquímicas, devido ao uso de pesticidas fenólicos, ou diretamente com fenol, e ao contacto da água com os revestimentos betuminosos das canalizações. Estes compostos também podem ocorrer naturalmente em águas superficiais devido à degradação de algas e plantas superiores ou, no caso das águas subterrâneas, em áreas cujo solo contém estratos de carvão ou petróleo.
O seu principal inconveniente é a formação de clorofenóis, produtos de sabor e cheiro desagradáveis e persistentes que se formam quando há a sua reação com cloro. Quando a sua concentração na água bruta é elevada, devem ser eliminados antes de se proceder à adição de cloro. Na fase final do tratamento, principalmente na desinfeção, há a redução da concentração de fenóis, que no entanto pode não ser suficiente para que não surjam alterações organoléticas , pelo que a definição dos valores regulamentados têm como base as características organoléticas e não a toxicidade (que se traduz no envenenamento das membranas celulares), já que esta só se manifesta para concentrações muito superiores, à exceção do pentaclorofenol (utilizado como conservante da madeira), cujos limites organoléticos são muito superiores aos tóxicos.
Ferro:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis que, por ser bastante solúvel em água, se pode encontrar em solução, na forma coloidal ou em suspensão, ou formando complexos com substâncias orgânicas ou minerais, etc., precipitando quando diminui o anidrido carbónico dissolvido ou por oxidação. é um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre, e é essencial à nutrição humana. As águas doces destinadas ao consumo público podem conter ferro devido a fatores naturais ou antropogénicos (p.e., a indústria metalúrgica). Quando em situações de anoxia (em certas águas subterrâneas ou em zonas profundas de lagos e albufeiras) o ferro pode encontrar-se na forma de ião ferroso (Fe2+), que é a sua forma mais solúvel. Quando em contacto com o ar, o Fe2+ é rapidamente oxidado a Fe3+ (forma férrica), precipitando. Em termos de saúde pública, a sua presença na água para consumo não acarreta riscos, só sendo absorvido se o indivíduo tiver carências deste elemento. No entanto, a sua ingestão terapêutica pode originar perturbações gástricas do tipo irritativo, gastrite aguda, necroses e hemorragias. Se o ferro se encontrar na forma de ião ferroso, podem ocorrer colapsos vasculares às vezes letais. Quando presente na forma de sulfato de ferro (FeSO4), se for absorvido em doses excessivas, produz perturbações gastrointestinais, taquicardia, colapso cardiovascular e respiratório.
O ferro entra na formação da hemoglobina (proteína do sangue), fixando as moléculas de oxigénio para o seu transporte pelos tecidos. No entanto, a sua deficiência no sangue (anemia) deve-se geralmente a perdas de sangue, e não a uma ingestão insuficiente.
Normalmente o ferro surge nas águas superficiais naturais na forma férrica, associado ao manganês, tendo uma grande influência nas suas características organoléticas , já que afetam a cor e a turvação devido à formação de flocos por precipitação quando em contacto com o ar.
As águas que contém estes elementos provocam frequentemente manchas amareladas ou enegrecidas nas roupas e cerâmicas, e alterando o sabor do café e do chá (pode ter um gosto metálico se a concentração de ferro ultrapassar vários microgramas). Como curiosidade, os ovos fervem mais rapidamente se forem cozidos numa água com concentração superior a 10 mg/L! Se as tubagens metálicas de ferro sofrerem processos de corrosão, podem dar origem a depósitos deste elemento.
é de notar que a alteração das características organoléticas contribui para o desenvolvimento de micro-organismos que transformam o ferro, como os clostrídios sulfitoredutores, dando lugar a acumulações de óxidos hidratados associados a massas bacterianas. Por vezes são utilizados sais de ferro como coagulantes no tratamento de água.
Fertilizantes:
Materiais que contém grandes quantidades de azoto e fósforo, sendo adicionados ao solo para aumentar a sua produtividade, estimulando o crescimento das plantas cultivadas. Se atingirem rios e lagos, podem causar o desenvolvimento excessivo de algas que vão asfixiar os outros seres vivos aquáticos por utilizarem todo o oxigénio dissolvido existente na água. Os nitratos formados por reações nos alimentos, especialmente em legumes e água para beber, podem provocar riscos para a saúde humana, especialmente nas crianças, ao serem reduzidos a nitritos no seu estômago, originando a “doença azul” ou metaemoglobinemia. Ver algas, eutrofização, nitratos, nitritos.
Filtração:
Processo físico que permite separar partículas sólidas suspensas num líquido ou gás, fazendo-o passar através de um meio poroso que as retém (filtro), sendo possível a sua extração .
Relativamente ao tratamento de água destinada ao consumo humano, o objetivo fundamental da filtração é a remoção das partículas que tenham escapado com a água decantada (material em suspensão e substâncias coloidais) do meio líquido, podendo promover a redução do número de bactérias e alterar algumas características da água.
A filtração consiste em fazer a água decantada atravessar um meio poroso, que em tratamento de águas de abastecimento é geralmente a areia, o qual retém os sólidos e permite a passagem da água.
Consoante a velocidade de filtração seja baixa (no máximo 0.5 m/h) ou elevada (no mínimo 5 m/h), assim a filtração se classifica em lenta ou rápida, respetivamente. Na ETA de Alcantarilha realiza-se a filtração rápida sobre leito de areia em duas baterias de 7 filtros cada, de funcionamento gravítico. A areia a utilizar deverá estar de acordo com a filtração a praticar, de tal forma que a espessura do leito e a velocidade de filtração empregues conduzam à obtenção de água com a qualidade pretendida. A seleção da granulometria do meio filtrante é condicionada pelas características das partículas a reter, nomeadamente a sua dimensão, pelo funcionamento do filtro em termos de velocidade de atravessamento do meio (velocidades menores exigem granulometria mais fina), e pelos mecanismos de filtração preponderantes (em filtração rápida o mecanismo mais importante é a adsorção). Neste caso, a areia utilizada é siliciosa, e a sua granulometria é 1mm.
A admissão da água decantada ao filtro é feita sobre a camada de areia através de uma comporta, formando-se uma "almofada" de água cuja superfície livre se vai elevando, face à colmatação do leito, i.e., à crescente dificuldade de passagem da água motivada pela progressiva retenção de flocos nos vazios do meio filtrante quando a água o atravessa. Além deste facto, a velocidade de filtração também diminui quando o nível de água sobre o filtro diminui, ou ainda quando o nível da água filtrada abaixo do leito filtrante aumenta.
A areia que constitui o meio filtrante assenta sobre um fundo falso, constituído por placas e boquilhas coletoras que recolhem a água filtrada e, aquando da lavagem do filtro, distribuem homogeneamente o ar e a água de lavagem, no sentido contrário ao da filtração. Ver filtração direta, lavagem em contracorrente.
No caso da filtração efetuada para a desidratação das lamas resultantes das águas residuais do processo, o que se pretende não é a obtenção do filtrado, mas sim do bolo de lamas formado. Ver desidratação das lamas.
Filtração direta:
Este tipo de filtração faz-se quando as características da água bruta são tais que não é necessário proceder à floculação, omitindo-se a decantação, nomeadamente quando a turvação é baixa. Faz-se então um “by-pass” à floculação, que conduz a água pré-oxidada às câmaras de coagulação, imediatamente a montante dos filtros, nas quais se podem adicionar os reagentes. Desta forma a produção de lamas é muito menor, sendo possível uma redução dos custos de exploração, sobretudo de reagentes, e energia. Ver filtração, coagulação, floculação, decantação.
Filtrado:
Líquido “limpo” obtido por filtração. No caso dos filtros de areia, o filtrado é a água que após desinfeção está pronta a ser distribuída até ao consumidor. Relativamente ao filtrado obtido na desidratação das lamas, é uma água com elevado teor em cal, que pode ser reintroduzida na linha de tratamento, ou ser aproveitada para a correção do pH da água a tratar, quando tal for necessário. Ver filtração, desidratação das lamas.
Filtro de areia:
Filtro em que o material poroso que retém as partículas em suspensão é a areia. Utilizado geralmente na etapa de filtração das Estações de Tratamento de água, podendo ser constituído por areia com a mesma granulometria, ou com granulometrias diferentes, consoante as características da água a filtrar. Ver filtração.
Filtro prensa:
Ver desidratação das lamas.
Floco:
Aglomerado de materiais de diversas naturezas, que no caso das Estações de Tratamento de água, é constituído por produtos químicos e impurezas, como resultado das etapas de coagulação/floculação, e é extraído, sob a forma de lamas, na etapa de decantação.
Floculação:
Processo de agregação de partículas coloidais neutralizadas que, postas em contacto umas com as outras, vão ganhando tamanho e peso tais que sedimentam graviticamente, sendo possível a sua separação da massa de água. Nesta etapa há uma agitação mecânica da massa de água, mas a uma velocidade mais lenta de modo a promover o bom contacto entre as partículas e os flocos, e sem que haja a destruição daqueles já formados. Para promover a formação dos flocos pode-se fazer uma recirculação de lamas diretamente dos decantadores para as câmaras de floculação. Em situações de má floculação podem utilizar-se adjuvantes, como os polielectrólitos, e se for necessário corrigir o pH da água por exemplo com cal viva, cal hidratada, ou soda. O processo de coagulação/floculação surge integrado nos decantadores, onde se processa a separação das fases sólida e líquida, sendo os flocos extraídos sob a forma de lamas. Ver coagulação, partículas coloidais, decantação.
Florescências:
Ou “blooms”, significam o desenvolvimento excessivo de cianobactérias, o qual geralmente ocorre em dias quentes, de grande luminosidade, no verão e outono, em águas preferencialmente estagnadas e com grandes quantidades de nutrientes, nomeadamente compostos azotados e fosfatados. Ver cianobactérias.
Flúor:
é um elemento presente na natureza, com grande significado em termos sanitários, e constitui um parâmetro relativo a substâncias indesejáveis. A sua ocorrência na água para consumo humano numa concentração aproximada de 1 mg/L (1000 μg/L) constitui um mecanismo de prevenção primário em relação às cáries, podendo haver entre 65 e 75 % das cáries nas crianças, segundo estudos realizados, mas estes valores também podem estar associados a melhores práticas de higiene dentária, à medicamentação e à alimentação. Para concentrações superiores pode afetar o metabolismo do cálcio, ocorrendo a fluorose dentária, que produz manchas permanentes no esmalte, deteriorando-o, ou fluorose do esqueleto. Se as concentrações forem maiores que 50 mg/L, podem ocorrer perturbações respiratórias, nervosas e da tiroide , e superiores a 100 mg/L, poderão surgir atrasos no crescimento, mongolismo, alterações renais graves e artrite. Então, a fluoretação da água destinada ao consumo humano deve ser bem ponderada, para não se correr riscos de sobredosagem. Há também algumas suspeitas da sua relação com certos tipos de cancro.
Fosfatos:
São sais de ácido fosfórico (H3PO4), constituindo um dos aniões (iões negativos) mais importantes presentes nas água (PO43-). São utilizados como fertilizantes na agricultura, sendo considerados juntamente com os nitratos, os nutrientes das plantas, presentes nas águas dos lagos e rios. Sendo bem menos solúveis que os nitratos, geralmente encontram-se na água sob a forma de precipitados que se depositam no fundo, ou de partículas em suspensão. Também podem ter como origem as águas residuais, por serem utilizados em detergentes sintéticos, ou surgiram naturalmente. Em quantidades excessivas são considerados fator importante no processo de eutrofização da água, por proliferação de algas. Se estiverem presentes nas água destinada ao consumo humano, podem causar problemas no seu tratamento, armazenamento e distribuição. Os fosfatos não são reduzidos, ou eliminados naturalmente pelas bactérias do meio, só desaparecendo dos ecossistemas por fixação nos solos ou por sedimentação e enterramento nos fundos dos lagos ou mares. Os sais de fósforo têm utilização no tratamento de águas como inibidores do processo de corrosão. Quanto aos seus efeitos no organismo, são facilmente absorvidos, excetuando os casos em que os alimentos contém grandes quantidades de cálcio, o que leva à formação de fosfatos de cálcio. São praticamente insolúveis pelo que são excretados pelas fezes, sem haver a sua absorção no intestino.
Fósforo:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, o fósforo é um elemento não metálico que pode ter origens naturais e antropogénicas, existindo na natureza diversas variedades alotrópicas, nomeadamente o fósforo branco, muito tóxico, e o fósforo vermelho, não tóxico. Na forma de fosfatos é essencial à vida, entrando na composição dos ossos, conferindo-lhes a sua dureza característica, no entanto, quando em quantidades muito elevadas pode interferir no metabolismo do cálcio e originar náuseas, diarreias, hemorragias gastrointestinais, formação de úlceras e problemas renais e hepáticos. Quando os valores mínimos necessários ao metabolismo humano não são respeitados podem ocorrer situações dolorosas e fraqueza generalizada.
Fotossíntese:
Processo de fabrico de matéria orgânica (hidratos de carbono) pelas plantas (verdes), que utilizam a energia luminosa solar, o dióxido de carbono atmosférico, e água, libertando-se oxigénio livre para a atmosfera. A clorofila é um pigmento indispensável à fotossíntese.
Fungo:
Organismo eucariótico, com o núcleo bem definido, mitocôndrias, aparelho de Golgi e retículo endoplasmático. São extremamente comuns na natureza, onde existem como organismos de vida livre. Alguns produzem esporos que são resistentes às condições ambientais extremas. Os fungos podem ser unicelulares, pluricelulares (filamentosos) ou apresentar ambas as morfologias. Metabolicamente são organismos muito versáteis, e geram inúmeros metabolitos, alguns dos quais são tóxicos. Os fungos são heterotróficos ( tal como os animais, obtém a energia a partir da decomposição de substâncias orgânicas complexas, ao contrário das plantas que são autotróficas), saprófitas (vivem de matéria orgânica morta, ocasionando ou auxiliando a sua decomposição) ou parasitas, não tendo clorofila, raízes, caules ou folhas, habitando ambientes húmidos e águas residuais ou efluentes, dispensando a luz solar. Podem causar gosto desagradável ou odores à água.
Gastroenterite:
Infeção aguda do tubo digestivo que pode ser contagiosa, e que apresenta vários sintomas, nomeadamente vómitos e diarreias. As suas causas podem ser variadas: virose, intoxicação alimentar, reações alérgicas, desequilíbrio bacteriano no trato digestivo, disenteria, etc..
Germes totais (a 37°C e a 22°C):
São bactérias não heterotróficas, aeróbias e anaeróbias facultativas, mesófilas e psicotróficas (certas espécies têm uma temperatura ótima de crescimento na ordem dos 30°C, e também conseguem desenvolver-se a temperaturas muito baixas) capazes de crescer num meio de agar nutritivo.
As bactérias aeróbias a 37°C são uma medida do teor global de bactérias numa água, já que as bactérias patogénicas para o Homem têm um temperatura ótima de 37°C, sendo por isso de importância mais significativa que as bactérias aeróbias a 22°C
Golpe de Aríete ou choque hidráulico:
Designa o efeito, por vezes destruidor, provocado pelo choque de uma massa de água que circula nas condutas, quando é bruscamente travada no seu movimento. Toda a mudança de velocidade da corrente de água numa conduta causa flutuações de pressão. Quanto maior e mais rápida for essa alteração, maior será a variação da pressão. A súbita interrupção de uma corrente de alta velocidade pode produzir perigosas ondas de pressão ascendentes e descendentes, ultrapassando os limites de segurança operacionais das tubagens, acessórios, bombas, etc. (a água ao ser bruscamente parada volta para trás, até atingir o órgão que causou essa alteração, podendo danificá-lo, e depois segue novamente o percurso inicial, e assim sucessivamente até parar). Se por esta razão forem geradas pressões inferiores à pressão atmosférica, podem ocorrer danos nas condutas, por cavitação, e dar-se mesmo a sua rotura devido à pressão exterior.
As causas mais frequentes de mudança brusca da velocidade do escoamento são: arranque e paragem de bombas, fecho e abertura rápidos de válvulas e enchimento das condutas com caudais excessivos. Para prevenir este fenómeno pode-se, p.e., controlar a velocidade do escoamento na rede, aliviar o refluxo que ocorre após a paragem da bomba, deixando sair a água da tubagem, evitar o rápido enchimento das condutas vazias, através da introdução de ar ou água na conduta quando se prevê a ocorrência de uma subpressão atmosférica.
Hidrocarbonetos (HC):
Compostos orgânicos constituídos apenas por carbono e hidrogénio. Consoante a disposição dos átomos de carbono na molécula, subdividem-se em alifáticos (parafinas, olefinas, diolefinas, etc.) e cíclicos (aromáticos, e naftalenos ou cicloparafinas). A sua presença na água resulta principalmente da poluição industrial e derrames, tendo como origens os combustíveis fósseis (petróleo, óleos minerais, carvão, etc.), encontrando-se igualmente nos produtos da combustão parcial destas substâncias, como os gases de escape de veículos que utilizam derivados de petróleo, e de muitos derivados como o benzeno, estireno, etc., produzidos na indústria petroquímica. Ver Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, hidrocarbonetos dissolvidos ou emulsionados.
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP):
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas, com origens antropogénicas (escorrências de cisternas e oleodutos e perdas no transporte) e naturais (solos de bosques, transporte atmosférico). A principal fonte de HAP são os alimentos, sendo muito pequena a quantidade fornecida pela água de consumo. Por serem voláteis, tendem a desaparecer por evaporação para a atmosfera, mas a fração que persiste na água pode originar gostos desagradáveis que podem ser reforçados pela presença do cloro utilizado para a desinfeção . De entre todos os hidrocarbonetos, estes são os mais perigosos para a saúde humana pois têm um efeito cancerígeno muito forte. Sabe-se que atravessam as paredes dos intestinos e pulmões muito facilmente, acumulando-se nas gorduras. Podem provocar hiperqueratose, hiperplasia e perda das glândulas sebáceas da pele. Para o benzeno, concentrações elevadas afetam o sistema nervoso central e falhas respiratórias que podem conduzir à morte, e em concentrações baixas tem um efeito cumulativo: ingerido repetidamente durante um longo período de tempo afeta os tecidos produzidos pelo sangue, reduzindo de uma forma crescente o número de glóbulos vermelhos e brancos nele presentes, podendo originar leucemia (um tipo de cancro que não pode ser detetado antes de atingir uma fase em que já não pode ser tratado). O benzo[α]pireno quando ingerido, provoca um aumento de tumores do estômago em ratos, estimando-se uma concentração admissível para o Homem de 0.7 μg/L, que produziria um risco adicional de cancro para toda a vida na proporção de 1/10000.
Hidrocarbonetos dissolvidos ou emulsionados:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis.
Hidrosfera:
Cobertura superficial da Terra onde se desenrola o Ciclo da água, agrupando a atmosfera, parte superficial dos continentes, e os oceanos, mares, rios, etc..
Herbicida:
Normalmente é uma substância química utilizada para matar plantas (ervas daninhas ou invasoras) prejudiciais à lavoura ou a plantas ornamentais.
Húmus:
Componente orgânico complexo do solo, que resulta da decomposição de tecidos animais e vegetais, conferindo-lhe uma cor acastanhada ou enegrecida, sendo muito importante para o crescimento das plantas. Ver ácidos húmicos.
Infiltração:
Infiltração de água da precipitação serve, por um lado, para constituir o armazenamento na parte superior do solo que alimenta a evapotranspiração, e por outro, durante o inverno, irá alimentar os lençóis de água subterrânea, constituindo o escoamento subterrâneo, que ocorre com grande lentidão, especialmente quando se processa em terrenos porosos e continua a alimentar os cursos de água longo tempo após ter terminado a precipitação que o originou. Do total das precipitações, esta parcela representa, em média, 11%. Obviamente, a infiltração depende do tipo e estado do solo onde ocorre a precipitação, podendo infiltrar-se ou apenas molhar a sua superfície (interceção pela vegetação, pavimentos, etc.). Ver ciclo hidrológico, evapotranspiração, precipitação.
Inseticida:
Substância química utilizada para matar, ou perturbar insetos. é raro os inseticidas serem seletivos, ou seja podem acabar por matar outros insetos que não aqueles a que se destinam, indo afetar os seus predadores naturais. Os seres humanos também correm riscos pois um muitas dessas substâncias são extremamente tóxicas. Além disso, pode haver o desenvolvimento de resistência ao inseticida pela praga, o que leva ao aumento das quantidades aplicadas, com gravíssimos danos para o ambiente, ou arranjam-se alternativas.
Intrusão marinha:
Processo que se pode verificar nos aquíferos costeiros e que consiste no avanço sobre o continente de massas de água salgada. Ver aquíferos, salinidade, salinização.
Ionização:
Processo de produção de iões (átomo ou grupo de átomos que ou perdeu um ou mais eletrões, ficando com carga positiva, ou que os ganhou, ficando com carga negativa). Certas moléculas ionizam-se em solução, como os ácidos; os iões também podem formar-se como resultado da energia ganha por colisão com outra partícula, devido ao impacto de radiação.
Lamas:
No caso das Estações de Tratamento de água, é a designação dada aos flocos depositados durante a fase de decantação, que são extraídos dos órgãos onde esta etapa toma lugar, sob a forma de uma mistura com elevado grau de humidade (geralmente superior a 98%). Os sólidos que constituem estas lamas provém da água bruta, integrando os reagentes utilizados (nomeadamente polielectrólito e cal), e os hidróxidos formados na coagulação/floculação, tendo um teor de matéria orgânica muito pequeno.
Este tipo de lamas pode ter várias aplicações, nomeadamente na construção civil, na aplicação em solos para a correção do seu pH e como meio de cobertura em aterros. Em termos de custos para a empresa gestora, a sua produção representa um problema a ter em atenção, sendo aconselhável a sua diminuição, bem como a recuperação química dos precipitados. O tratamento a aplicar às lamas deve ser tal que permita a maior redução possível do seu volume, e a sua deposição final no ambiente tem que ser feita de forma segura. Algumas formas de reduzir a sua produção são a realização de filtração direta, a substituição do coagulante por outro mais efetivo a doses inferiores, a conservação dos reagentes, determinando a dose ótima em intervalos de tempo frequentes à medida que as características da água bruta mudam. Ver filtração direta, desidratação das lamas.
Lavagem em contracorrente:
O ciclo de lavagem inicia-se quando a água filtrada já não apresenta a qualidade requerida, ultrapassando o valor limite imposto, começando-se eventualmente a notar flocos na água filtrada, ou ao se atingir a perda de carga terminal, i.e., quando não for possível produzir água filtrada à velocidade desejada, ou ainda sempre que a unidade esteja um longo período sem funcionar.
A lavagem é feita em "contracorrente", fazendo-se passar água filtrada (já clorada) e ar em sentido inverso ao da filtração, através das boquilhas coletoras colocadas no fundo dos filtros de areia. A lavagem engloba duas fases, a de fluidificação, que é feita com ar comprimido, para provocar a expansão do leito, por descompressão, e com água pondo as partículas em movimento. As areias, ao chocarem umas com as outras, fazem com que as partículas coloidais leves se libertem dos poros; seguidamente, na fase de lavagem propriamente dita é elevado um caudal de água de lavagem com o qual essas partículas se escapam, tornando assim a lavagem mais eficiente. Após alguns minutos este caudal é fechado, e a areia assenta no lugar.
A água suja é recolhida em caneletas dispostas transversalmente, com um comprimento de descarregador suficientemente elevado para garantir uma velocidade de aproximação reduzida, evitando o arrastamento de areia e uma boa repartição hidráulica, necessária para assegurar uma lavagem correta. A água é então descarregada para um canal central, saindo do filtro por intermédio de uma comporta para um canal paralelo ao da água decantada a filtrar. Deste canal a água segue para a cisterna da água da lavagem dos filtros e daí é elevada para o decantador circular. A água é assim recuperada e reintroduzida na linha de tratamento, após decantação para redução da concentração de sólidos.
As lamas resultantes do processo de deacantação da água da lavagem dos filtros juntam-se às dos decantadores-espessadores, e são encaminhadas ao seu tratamento. Ver desidratação das lamas, filtração, filtros de areia.
Magnésio:
Parâmetro físico-químico muito abundante na natureza (cerca de 2% da crosta terrestre), de origem fundamentalmente geológica, mas que também pode ser resultado de certas atividades industriais. O magnésio forma sais muito solúveis e juntamente com o cálcio é responsável pela dureza total da água. Quando presente em concentrações muito elevadas torna-se indesejável devido aos problemas de incrustações que provoca. Em termos de saúde pública, intervém em inúmeros processos enzimáticos, e é um elemento constituinte do tecido ósseo, mas tal como o cálcio, as suas formas mais assimiláveis encontram-se nos alimentos, principalmente em cereais. O seu déficit favorece a hipertensão, e ao ser adicionado à dieta como suplemento, provoca a diminuição da tensão arterial, e tem um efeito diurético.
Manganês/manganésio:
A sua presença na água para consumo humano em grandes concentrações é indesejável, causando inconvenientes semelhantes aos do ferro (alteração das características organoléticas ). Pode ser encontrado tanto em águas subterrâneas como superficiais. Nas água superficiais, o manganês encontra-se precipitado nos sedimentos, mas quando há a diminuição do oxigénio dissolvido, ele retorna à forma dissolvida, podendo atingir concentrações elevadas.
Em concentrações elevadas torna-se tóxico, mas devido aos seus inconvenientes estéticos, acaba por ser eliminado durante o tratamento da água, por oxidação, antes de atingir tais valores. Se for absorvido continuamente, pode originar, p.e., a situação neurológica conhecida como parkinson mangánico, que evolui lentamente, durante meses ou anos, podendo criar estados graves. No entanto, visto que se trata de um oligoelemento essencial à vida humana, acaba por ter um aspeto positivo para suprir as carências Nas Estações de Tratamento de água há também o problema do desenvolvimento de um certo tipo de bactérias, como a Gallionella, cuja presença causa perturbações no funcionamento dos filtros de areia. Há igualmente o problema da formação de depósitos e corrosão das canalizações no sistema de distribuição.
Metahemoglobinemia infantil:
Ver nitratos.
Mercúrio:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas, tem origens naturais (erosão de depósitos de cinábrio) e antropogénicas, como a indústria da pasta de papel, tratamento de sementes, combustíveis fósseis, extração mineira e refinação. O mercúrio, na forma metálica, é também utilizado em termómetros, barómetros e até em brinquedos para crianças. Se houver um ambiente fechado e aquecido no qual ocorra um derrame, mesmo em pequenas quantidades, pode dar-se o envenenamento. Os compostos de mercúrio são tóxicos ou por ingestão, ou por inalação de partículas bioacumuláveis, originando, nomeadamente por inibição dos sistemas enzimáticos, transtornos neurológicos e renais, consoante se tratarem de compostos orgânicos ou inorgânicos, respetivamente, e interferindo no metabolismo do colesterol. Pequenas doses provocam dores de cabeça, nervosismo e irritabilidade, enquanto que doses maiores causam convulsões, coma e eventualmente a morte. Relativamente aos compostos orgânicos, o metil-mercúrio é bastante perigoso, tendo efeitos teratogénicos. Este composto provém da transformação microbiana do mercúrio inorgânico e de alguns compostos orgânicos que contém mercúrio. Geralmente os sais inorgânicos de mercúrio não constituem perigo para os organismos, sendo muito utilizados na agricultura para combater doenças e pragas. Por sua vez, os compostos orgânicos utilizados para combater doenças provocadas por fungos em sementes e plantas em crescimento, frutas e hortaliças podem ser absorvidos pelo Homem, sendo muitíssimo tóxicos (o alquil-mercúrio pode causar atrasos mentais permanentes). São conhecidos vários casos de intoxicação coletiva, como sucedeu no Iraque, por utilização de sementes que haviam sido tratadas com mercúrio, e na baía de Minamata (Japão, 1950), onde uma fábrica descarregou este metal no meio hídrico, atingindo os peixes, principal alimento da população local.
Micro-organismos: seres microscópicos como as bactérias, fungos, algas, protozoários, rotíferos, crustáceos e nemátodas, que se encontram em ambientes vários, sendo indesejáveis quando presentes numa água destinada ao consumo humano.
Mistura Rápida:
Esta operação consiste na distribuição acelerada e uniforme dos reagentes, nomeadamente do coagulante, e p.e., do permanganato de potássio, pela água, criando uma fase homogénea. é neste momento que se inicia o processo de coagulação/floculação. Esta mistura é feita mecanicamente por intermédio de um electroagitador, geralmente de pás planas. Ver Coagulação.
Mutagéneo:
Agente físico (radiações ionizantes) ou químico que pode modificar a estrutura química dos genes (material hereditário). Certas substâncias químicas ao reagirem com o ADN, molécula que transporta o material hereditário, são muitas vezes mutagénicas, como alguns inseticidas. Embora algumas mutações possam trazer alguns benefícios, a maioria tem um efeito perigoso ou neutro, sendo muitos dos mutagéneos igualmente cancerígenos.
Nanofiltração:
Técnica de separação por membranas, que consiste em fazer passar sob pressão a água através de membranas filtrantes, as quais retém praticamente tudo (com a exceção dos pesticidas e nitratos), e deixando passar a água. é uma variação da osmose inversa, técnica utilizada p.e., para a dessalinização da água, em que são separados da água os sais nela dissolvidos. Ver osmose inversa e separação por membranas.
Nascente:
Ponto onde nasce a água subterrânea; fonte.
Níquel:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas com origens industriais. é relativamente pouco tóxico via digestiva por ser fracamente assimilado no intestino, não representando perigo para a saúde pública quando presente nos alimentos e água para consumo. Em algumas experiências com animais, revelou-se carcinogénio.
Nitratos:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, com origens tanto naturais (erosão de depósitos naturais) como antropogénicas, sobretudo a existência de dejetos humanos e animais, mas também podem ser provenientes dos produtos utilizados na agricultura. Os nitratos não são tóxicos para o Homem, tendo apenas um efeito diurético, já que são total e rapidamente eliminados pela urina. No entanto podem acarretar problemas especialmente para os bebés (tal como nos ruminantes), pois a baixa acidez ao nível do seu estômago permite o desenvolvimento de bactérias que fazem a redução dos nitratos a nitritos, além de terem um tipo de hemoglobina que reage facilmente com os nitritos. Quando ocorre esta reação com a hemoglobina (pigmento vermelho do sangue, responsável pelo transporte do oxigénio) o transporte do oxigénio através do organismo deixa de ser eficaz. Se tal acontecer a um nível significativo, o organismo pode mesmo sufocar, situação designada por metahemoglobinemia infantil, ou vulgarmente, a doença azul, que pode mesmo ser fatal. Também está demostrado o seu efeito cancerígeno e teratogénico.
São compostos bastante solúveis na água, pelo que a sua presença pode contribuir para a eutrofização de rios e contaminação de aquíferos. O “bloco” azotado (nitratos, nitritos e amónia) é na maior parte das vezes acompanhado de teores elevados de cloretos, sulfatos e fosfatos.
Nitritos:
Em águas naturais, os nitritos são indício de poluição, mas são rapidamente convertidos em nitratos sobretudo em solos agrícolas, e absorvidos pelas plantas. No entanto podem acarretar problemas aos seres humanos, como a metahemoglobinemia nos bebés e constituindo também um potencial risco de cancro devido à formação endógena e exógena de compostos N-nitrosos e nitrosaminas. Também se podem formar no final dos sistemas de distribuição se for praticada a desinfeção com cloraminas.
Norma ou Padrão de qualidade da água:
Valores de parâmetros físicos, químicos, biológicos e microbiológicos que definem uma qualidade da água aceite como adequada para determinado uso, neste caso, para consumo humano.
Nutrientes:
Geralmente dizem respeito aos nitratos e fosfatos existentes nas águas superficiais, permitindo o desenvolvimento de algas, e provocando a eutrofização, quando em excesso.
Organismos Patogénicos:
Responsáveis pela transmissão de doenças contagiosas, existindo uma grande variedade de bactérias, vírus e parasitas responsáveis pela transmissão de doenças por ingestão de alimentos ou água contaminada.
Organoclorados:
Grupo de substâncias químicas que entram na formação de certos inseticidas, compostos por um hidrocarboneto clorado com um ou mais anéis aromáticos, ou um hidrocarboneto cíclico saturado. São compostos menos tóxicos que outros compostos orgânicos (fosforados, clorofosforados e carbamatos), mas são muito persistentes no ambiente, bioacumulando-se. Ver bioconcentração.
Osmose inversa:
Também denominada hiperfiltração, é feita com membranas semipermeáveis que permitem a passagem da água, mas não dos seus solutos, com a exceção de algumas moléculas orgânicas muito semelhantes à água em termos de tamanho molecular e polaridade. Na osmose “normal”, a água tende a passar pela membrana desde a parte mais diluída até à mais concentrada, até atingir o equilíbrio osmótico, o que se traduz numa pressão hidrostática (pressão osmótica). Se for aplicada uma pressão superior à osmótica na zona mais concentrada, a água passará da zona de maior concentração de solutos para a de menor concentração, ficando estes retidos na membrana.
Este tipo de tratamento é feito para a dessalinização da água do mar ou salobra, para a obtenção de água potável, mas requer muita energia, e membranas, sendo uma técnica dispendiosa. Ver dessalinização, salinidade, salinização.
Outros compostos organoclorados (sem ser os pesticidas):
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, como o tetracloroetano e o tricloroetano.
Oxidabilidade ao permanganato:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, que constitui um teste geralmente equivalente à matéria orgânica presente na água, já que inclui as substâncias redutoras suscetíveis de serem oxidadas pelo permanganato de potássio, que se trata de um oxidante forte. Juntamente com outros parâmetros, como o Azoto Kjeldahl, é considerado um indicador indireto de contaminação fecal, já que as águas residuais têm um elevado teor em matéria orgânica. Uma vez que não se define a natureza dos compostos oxidativos, não tem significado em termos sanitários.
Oxidação:
Esta denominação foi originalmente atribuída ao processo químico que ocorre quando o oxigénio reage com outras substâncias, mas como este processo envolve reações de redução (ganho de eletrões) e de oxidação (perda de eletrões) entre várias substâncias, é mais corretamente denominado oxidação- redução (redox). Um agente de oxidação ou oxidante provoca a oxidação de outras substâncias, ficando ele próprio reduzido, e contém átomos com números de oxidação elevados.
Relativamente à oxidação da matéria orgânica das águas naturais destinadas ao consumo humano, recorre-se a agentes oxidantes como o cloro e compostos clorados (cloro gasoso, dióxido de cloro, hipocloritos), ozono, permanganato de potássio, peróxido de hidrogénio, etc.. Com este processo, e dependendo do agente oxidante utilizado e da fase de tratamento em que este é aplicado, consegue-se remover a cor ,cheiros e sabores, inativar esporos, destruir micro-organismos, etc., melhorando o desempenho das fases de tratamento seguintes.
Óxido:
Composto resultante da combinação do oxigénio com outro elemento.
Oxigénio (O2):
Elemento gasoso, incolor, insípido e inodoro. é o elemento mais abundante na crosta terrestre (49.2% por peso), e o que está presente na atmosfera (28% por volume) é extremamente importante para todos os organismos aeróbios. A respiração dos seres vivos conduz a um consumo importante de oxigénio, com a libertação concomitante de CO2. Contudo, o consumo excessivo de combustíveis fósseis traduz-se num aumento regular do teor de CO2 na atmosfera, o qual a fotossíntese não consegue regular completamente.
Pode ser obtido por destilação fracionada a partir de ar líquido, tendo várias aplicações industriais. A sua forma comum é a diatómica (O2), sendo possível produzir o ozono (O3) por ionização dos átomos de oxigénio, que é um oxidante muito forte atualmente utilizado para o tratamento da água destinada ao consumo humano. Quimicamente o oxigénio reage com a maioria dos elementos formando óxidos. Ver oxidação, ionização, ozono.
Oxigénio Dissolvido:
Parâmetro físico-químico cuja presença é normalmente considerada como positiva, pois relaciona-se diretamente com a existência de contaminação orgânica, em geral de origem fecal. Se existir este tipo de contaminação há a diminuição do seu teor, devido ao metabolismo bacteriano. No entanto, há que ter em atenção que uma concentração muito elevada também pode indicar a ocorrência de contaminação, pois a degradação da matéria orgânica é acompanhada de um aumento da concentração de oxigénio dissolvido (O.D.), podendo por este motivo ser considerado um indicador de contaminação fecal.
Então, deve se manter a sua concentração num valor próximo da saturação. Se não se garantir um teor mínimo de oxigénio dissolvido podem ocorrer vários inconvenientes, nomeadamente a formação de sabores e odores desagradáveis, corrosão das canalizações e proliferação de micro-organismos. A solubilidade do oxigénio depende sobretudo da temperatura da água e da existência de determinadas substâncias como os cloretos, variando na razão inversa.
Ozono:
Variedade alotrópica do oxigénio, o ozono é um gás tóxico, incolor, solúvel em água, com cheiro característico, mesmo quando em baixas concentrações (o olfato humano deteta a sua presença quando a sua concentração é de 0.01 ppm), e dependendo da sua concentração tem uma coloração que varia de incolor ao azul-escuro. Por ser muito instável, não pode ser armazenado nem transportado, pelo que para a sua aplicação tem que ser produzido no local.
É um oxidante excelente, com um poder de oxidação superior ao do cloro, e com propriedades bactericidas e virulicidas importantes e de ação rápida. Atualmente é bastante utilizado como pré-oxidante no tratamento de águas, nomeadamente para consumo humano, visto melhorar a separação sólido- líquido, aumentar a capacidade de filtração e produzir água de muito melhor qualidade. No entanto, utilização do ozono não permite a existência de um residual que garanta proteção contra possíveis contaminações da água pelo que, no caso do tratamento de águas destinadas ao consumo humano, realiza-se a sua desinfeção com outro reagente, geralmente o cloro gasoso.
A sua produção consiste em fazer passar uma corrente gasosa de oxigénio (ou ar) num ozonizador, que é basicamente um conjunto de elétrodos , entre os quais é gerado um campo elétrico , criado por um potencial elevado que, por descargas elétricas , provoca a ionização do O2. O oxigénio monoatómico ionizado recombina-se com o oxigénio diatómico, formando o ozono – O3 -. Este é então posto em contacto com a água bruta, por exemplo sendo introduzido por meio de difusores em câmaras de contacto. Conforme as características da água bruta exigirem mais ou menos ozono, a sua dosagem é facilmente regulável, simplesmente modificando a voltagem dos geradores.
O principal inconveniente da utilização do ozono é o seu elevado custo de produção, sobretudo energético, mas também há a considerar a sua toxicidade para o Homem, que se manifesta a baixas concentrações (com uma concentração superior a 0.25 ppm na atmosfera já representa perigo para a saúde). No entanto, como é detetável a baixas concentrações, qualquer fuga acidental é facilmente resolvida. Ver pré-ozonização.
Este composto é também produzido pela ação de descargas elétricas (relâmpagos) na estratosfera ou quando esta é atravessada pela radiação ultravioleta (U.V.) que reage com o oxigénio, agindo como uma barreira protetora da Terra contra esta radiação. Uma fina camada de ozono foi-se formando progressivamente devido a estes fatores nas camadas superiores da atmosfera terrestre primitiva à medida que esta se enriquecia em óxigénio, graças à fotossíntese. Como o ozono impede a passagem da radiação U.V., protege os seres vivos contra a sua ação letal, o que permitiu o desenvolvimento rápido das diversas formas de vida no planeta. A camada de ozono encontra-se a cerca de 15 a 50 km acima da crosta terrestre (estratosfera), e a sua espessura atualmente é desigual, encontrando-se mais fina no equador e nos pólos, como resultado da sua reação com compostos derivados da atividade humana, sobretudo os CFC’s, halogéneos, e óxidos de azoto produzidos pela aviação.
Na troposfera (camada inferior da atmosfera, onde vivemos), o ozono é um poluente fotoquímico que contribui para o efeito de estufa, que se forma quando na presença de radiação solar, óxidos de azoto e hidrocarbonetos emitidos por combustão pelos veículos automóveis, incineradores, chaminés de caldeiras, etc.. Acima de determinado valor, o ozono é nocivo para o Homem e animais, e causa irritações nas mucosas oculares e respiratórias, especialmente em pessoas sensíveis.
Parâmetros físico-químicos:
Estes parâmetros são regulados pelo Decreto-lei 306/2007, de 27 de agosto. Neste grupo incluem-se a temperatura e o pH e outros como o cálcio, os cloretos, o magnésio, o potássio, o sódio, e os sulfatos. Além destes, são também parâmetros físico-químicos a condutividade, a sílica, o alumínio, a dureza total, os sólidos totais, o anidrido carbónico livre e o oxigénio dissolvido, alguns dos quais que podem ter efeitos negativos sobre a saúde do consumidor e sobre o funcionamento das Estações de Tratamento de Água e sistemas de distribuição.
Parâmetros microbiológicos:
Estes parâmetros são regulados pelo Decreto-lei 306/2007, de 27 de agosto e incluem-se nos parâmetros que têm que ser analisados com maior frequência (com a exceção dos estreptococos fecais e dos clostrídios sulfitoredutores), pois são indicadores de situações perigosas imediatas para a saúde pública, dependendo da eficácia da desinfeção efetuada. Os parâmetros microbiológicos analisados são: coliformes fecais, coliformes totais, estreptococos fecais, clostrídios sulfitoredutores, e germes totais (a 22°C e a 37°C). Embora não seja obrigatório por lei, para completar o melhor possível o exame microbiológico da água, é conveniente realizar a análise a: salmonelas, bacteriófagos fecais, enterovírus, estafilococos patogénicos. Além disso, estas águas não devem conter: organismos parasitas, algas, organismos macroscópicos.
Parâmetros organoléticos :
Estes parâmetros são regulados pelo Decreto-lei 306/2007, de 27 de agosto. O cheiro e o sabor são parâmetros a que o consumidor é particularmente sensível. A apreciação destes parâmetros deverá ser feita sem recurso a aparelhagem que não os sentidos da vista, tato, olfato e sabor, tratando-se apenas de uma avaliação qualitativa. Uma água para consumo humano deve ser incolor, límpida, inodora e insipida. Normalmente quando estes parâmetros ficam alterados, não quer dizer que existam necessariamente riscos para a saúde, mas em determinadas circunstâncias podem estar associados a situações potencialmente perigosas.
Parâmetros relativos a substâncias indesejáveis:
A presença destas substâncias acima de determinado valor pode indicar a ocorrência de situações inconvenientes para o utilizador, sendo estes efeitos geralmente visíveis e não necessariamente tóxicos. Por exemplo, a presença de concentrações excessivas de ferro, manganês, cobre, zinco, fósforo e cobalto provoca, normalmente, a formação de precipitados, a ocorrência de turvação e/ou coloração na água, tornando-a menos apetecível para o consumidor.
Parâmetros relativos a substâncias tóxicas:
Segundo o Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de agosto, estes parâmetros estão incluídos nos parâmetros conservativos: acrilamida, antimónio, arsénio, benzeno, boro, bromatos, cádmio, cianetos, cloretos, crómio, 1,2-dicloroetano; fluoretos, mercúrio, nitratos, pesticidas, radioatividade, selénio, sódio, sulfatos, tetracloroeteno e tricloroeteno. Estas substâncias, quando presentes acima de determinadas concentrações, podem resultar em situações de toxicidade, com várias consequências carcinogénicas, mutagénicas e teratogénicas, mas a sua presença na água não varia muito ao longo do tempo.
Parasitas:
São organismos bastante complexos, podendo ser unicelulares (protozoários – esporozoários, amibas, flagelados e ciliados) ou pluricelulares (helmintas), e dependem de um hospedeiro para viver, alguns estabelecendo uma relação permanente com o hospedeiro, e outros passam por uma série de fases de desenvolvimento em vários hospedeiros. Os protozoários variam entre 1 e 2 μm de diâmetro e os helmintas podem medir até 10 metros de comprimento. Muitos dos protozoários produzem toxinas, para além das lesões que causam ao hospedeiro após a adesão e replicação. Muitas das consequências patogénicas das infeções por helmintas estão relacionadas com o seu tamanho, movimento e longevidade. As lesões diretas resultam do bloqueio mecânico dos órgãos internos ou dos efeitos de pressão exercida pelos parasitas em crescimento. Ver doenças transmitidas pela água.
Partículas coloidais:
São sistemas constituídos por 2 ou mais fases, com uma (a fase dispersiva) distribuída na outra (a fase contínua), e pelo menos uma delas tem dimensões muito pequenas (entre 10-9 e 10-6). No tratamento de água para consumo, devido a estas pequenas dimensões, os coloides não sedimentam num período de tempo razoável, e passam através dos poros dos filtros. Estas partículas não se aglomeram porque têm cargas superficiais negativas, repelindo-se umas às outras, e mantém-se estáveis se permanecerem pequenas, e são animadas de um movimento contínuo chamado Movimento Browniano. Por forma a eliminá-las, faz-se a adição de um coagulante, sendo o mais comum o sulfato de alumínio, cujos iões Al3+, por terem carga contrária à das partículas coloidais, neutralizam as suas cargas superficiais, sendo assim possível a sua agregação a outras partículas. A este fenómeno chama-se - desestabilização dos coloides -. Desta forma, as partículas podem crescer e ganhar peso, por aglutinações sucessivas, formando-se precipitados - flocos - que, ao sedimentarem, já permitem a separação da fase sólida da líquida. Ver coagulação, coagulante, floculação.
Partículas em suspensão:
Pequenos grãos de rocha, solo ou matéria orgânica transportados pela água e que podem ser separados desta por sedimentação ou filtração, consoante a velocidade da água e as características das próprias partículas. As suas principais origens são a erosão do solo, os organismos vivos, sobretudo bactérias e algas, e as atividades agrícolas, industriais e eutrofização. Em águas paradas, as partículas pesadas depositam, podendo apenas permanecer em suspensão as mais finas (normalmente com dimensões inferiores a 1 μm), ou as coloidais. Devido às suas pequenas dimensões, possuem uma grande superfície que lhes confere uma grande capacidade de adsorção, podendo por isso constituir um meio de transporte de substâncias tóxicas, como metais pesados e pesticidas, ou de micro-organismos como vírus e bactérias patogénicas, daí a necessidade da sua eliminação. Ver partículas coloidais, turvação.
Permanganato de potássio (KMnO4):
é um oxidante enérgico conhecido há muito tempo, muito embora não seja muito utilizado no tratamento de águas de abastecimento. Apresenta-se sob a forma de cristais violeta escuro e em contacto com ele, a água adquire uma tonalidade rosa, o que permite detetá-lo facilmente. Apresenta várias vantagens sobre o cloro, já que a sua manipulação não acarreta riscos, é de baixo custo e não dá origem a sabores e cheiros desagradáveis. No entanto, não tem ação residual, e o seu controlo é complicado, tornando-se necessário eliminar a coloração que confere à água, e ao longo do tempo forma-se um precipitado escuro na água que adere às paredes dos órgãos de tratamento e a materiais de cerâmica e vidro, sendo de difícil remoção sem causar estragos.
A sua aplicação é recomendada, conjuntamente com o cloro, quando a água bruta contém muita matéria orgânica, tendo uma ação muito rápida sobre esta. Geralmente é utilizado para a oxidação de substâncias inorgânicas reduzidas, como sais de ferro e manganês. A sua aplicação deve ser feita antes da coagulação/floculação, já que há a produção de dióxido de manganês o qual contribui para a eliminação de impurezas catiónicas por adsorção, favorecendo a floculação. Ver ferro, manganês, pré-oxidação.
Pesticidas:
Designação que inclui uma variedade substâncias com natureza distinta e variadas aplicações, como algicidas, inseticidas, fungicidas, herbicidas, fumigantes e rodenticidas. De todos, os mais importantes são os produtos químicos orgânicos sintéticos, como o DDT, o paratião, etc., não só em termos de consumo, como da sua potencial contaminação ambiental, causando a rutura do equilíbrio natural. Ao atingir os rios, por escorrências, aplicação direta, lixiviação de solos agrícolas, descargas industriais ou transporte aéreo, podem conduzir ao desenvolvimento de espécies resistentes a estes produtos, o que pode ter efeitos negativos nas cadeias alimentares, e pode mesmo causar a morte a peixes e outros seres vivos aquáticos, contaminando os lençóis freáticos, e logo a água potável e a comida. Embora no ambiente as suas concentrações sejam geralmente baixas, eles tendem a concentrar-se à medida que progridem na cadeia alimentar (bioconcentração), com consequências gravíssimas para a fauna e flora selvagens, e para a saúde humana. Cerca de 90% dos pesticidas que absorvemos provém dos alimentos que foram tratados com estas substâncias, pelo que se torna obrigatório lavar os legumes e frutas antes de os confecionarmos e comermos.
Plâncton:
Nos sistemas aquáticos constitui a unidade básica de produção de matéria orgânica. Os seus organismos mais representativos são as algas, bactérias, rotíferos, cladóceras, cocépodes, e algumas larvas. De acordo com a sua natureza, o plâncton pode ser dividido em três categorias: bacterioplâncton, fitoplâncton e zooplâncton.
Polielectrólito:
Composto de cadeia longa e elevado peso molecular utilizado como adjuvante da floculação, ou na desidratação das lamas produzidas, que pode ter cargas negativas (aniónico), positivas (catiónico), ambas ou nenhuma. Estes compostos têm muitos locais ativos onde há a adesão aos flocos, juntando-os e formando um floco maior e mais coeso, que sedimenta muito melhor. O tipo de polielectrólito a utilizar, o local e a dose a aplicar dependem das características da água bruta, sendo adicionados à água nas situações de pior coagulação. Ver coagulação, floculação, desidratação das lamas.
Poluente:
Substância ou material que causa poluição, representando um potencial ou real perigo ao ecossistema e/ou à saúde dos organismos que nele vivem, ou que com ele interatuam. Ver poluente biodegradável, poluente não biodegradável, poluição.
Poluente biodegradável:
Pode ser convertido em algo não perigoso, por processos naturais e, consequentemente não provoca necessariamente prejuízos permanentes se forem dispersos ou tratados adequadamente, como por exemplo os esgotos/efluentes/águas residuais.
Poluente não biodegradável:
Eventualmente acumulável no ambiente, podendo-se concentrar nas cadeias alimentares, como os metais pesados e o DDT.
Poluição:
Alteração indesejável nas características físicas, químicas ou biológicas do ambiente natural, causada direta ou indiretamente pela atividade humana, podendo ser prejudicial tanto à vida humana como não humana. Os usos a dar à água dependem da sua qualidade pelo que se esta estiver poluída pode perturbar ou mesmo destruir o equilíbrio dos ecossistemas e dos recursos naturais, podendo causar doenças e pôr em causa muitas formas de vida. Há duas classes principais de poluentes: os biodegradáveis (ex. esgoto), e os não biodegradáveis (ex. metais pesados, DDT), e a sua capacidade de interferir na qualidade da água depende da sua concentração e da capacidade de diluição do meio hídrico. Outras formas de poluição do ambiente incluem o ruído, a poluição visual e a poluição térmica (p.e., devido ao funcionamento de certas indústrias e centrais termoelétricas e nucleares, que utilizam a água para arrefecimento).
Pontos de entrega:
São os reservatórios onde é entregue a água tratada proveniente da ETA, geralmente sem constituírem pontos de consumo, terminando nesses locais a distribuição em alta, da responsabilidade da entidade gestora. A partir daqui a distribuição da água passa a ser feita em baixa, sendo da responsabilidade dos Municípios. Ver Sistema de abastecimento de água em alta e Sistema de abastecimento de água em baixa.
Potássio:
Parâmetro físico-químico de origens natural e antropogénica, nomeadamente algumas indústrias e restos de fertilizantes, que intervém nos mecanismos de regulação osmótica. é o 7o elemento mais abundante na Terra, e a sua concentração na maioria das águas naturais raramente excede 20 mg/L. é indispensável à vida, sendo absorvido do solo pelas raízes das plantas e incorporado pelos animais através da alimentação. Juntamente com o sódio desempenha um papel essencial na transmissão dos impulsos nervosos eletroquímicos aos nervos e fibras nervosas. A sua insuficiência provoca sintomas de fraqueza muscular e perda de capacidade cerebral, mas o seu excesso também pode ser fatal.
Potencial de hidrogénio, pH:
Parâmetro físico-químico que constitui uma medida do grau de acidez ou basicidade de um meio aquoso, variando entre 1 e 14. Se o valor do pH é 7, para uma temperatura de 25°C, o meio é neutro. Os valores abaixo de 7 correspondem a um meio ácido e os superiores a um meio básico/alcalino. Por exemplo, o ácido de bateria tem pH 1, o sumo de limão 2, o leite 6 e a soda cáustica 13. A escala de pH é logarítmica, em que pH = - log10 [H+], sendo [H+] a concentração dos iões hidrogénio. Então, uma mudança de uma unidade na escala representa uma multiplicação por dez, ou seja, uma solução com pH 2 é dez vezes mais ácida que uma com pH 3, e cem vezes mais ácida que uma com pH 4.
Nas águas naturais não poluídas, o pH é sobretudo determinado pela inter-relação entre o CO2 livre e as espécies carbonáceas presentes, podendo variar entre 4 e 9.
Em termos da saúde pública este parâmetro não tem grandes repercussões, no entanto, uma água com características ácidas pode levar à solubilização de metais constituintes das tubagens (corrosão), que podem ser tóxicos, tendo por isso de ser controlado. Além destes aspetos, o pH influencia o processo de tratamento a que a água é submetida, sobretudo a decantação e a desinfeção, tendo de ser controlado para a otimização do processo.
Prata:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis. Ocorre como elemento e como minerais (argenite e clorargirita), existindo nos minérios de ferro e de cobre, sendo extraída como produto intermediário na sua fundição e refinação, e tem utilizações várias (joalharia, talheres, reagentes de fotografia - compostos como o cloreto e nitrato de prata, que são sais iónicos de prata I). Nas águas naturais ocorre ocasionalmente, mas raramente surge em concentrações detetáveis na água para consumo. No tratamento de águas para consumo, pode ser utilizado como desinfetante, ou como constituinte de certos filtros.
Curiosidade: antigamente utilizava-se recipientes de prata para armazenamento de água devido às suas propriedades como desinfetante.
Precipitação:
Formação de um precipitado, i.e., de uma suspensão de pequenas partículas sólidas num líquido, por reação química; relativamente ao ciclo hidrológico, pode ser considerado como o seu ponto de partida. Ao atingir o solo várias situações podem ocorrer: a água pode evaporar imediatamente, sobretudo se a superfície é muito quente; se o solo for seco e/ou poroso pode ocorrer a infiltração da água no solo, ou a sua interceção pela vegetação, pavimento, prédios, etc.; ficar retida em pequenas depressões e poças até evaporar ou transbordar; dirigir-se diretamente para o curso de água mais próximo, constituindo a água superficial. Estas quatro situações reduzem consideravelmente a quantidade direta de escorrência.
A repartição da precipitação na Terra é desigual, tanto de região para região, como ao longo do ano, e muitas vezes de ano para ano. Relativamente à sua variação com a latitude ocorre em menor escala nos pólos e zonas cobertas de gelo, aumenta nas zonas temperadas, voltando a diminuir na zona que precede os trópicos e voltando a aumentar até atingir o seu máximo na zona intertropical. Além disso também chove mais nas zonas costeiras que no interior dos continentes, já que cerca de 85% do vapor de água na atmosfera vem dos oceanos (Efeito da Continentalidade). Ver ciclo hidrológico.
Pré-Cloragem:
Consiste na pré-oxidação com cloro das substâncias presentes na água bruta. A utilização de cloro gasoso ou de hipocloritos deve ser bem ponderada devido à formação de Trihalometanos, substâncias potencialmente cancerígenas e mutagénicas, resultantes da reação de substâncias orgânicas precursoras (sobretudo ácidos húmicos e fúlvicos) com o cloro. Ver cloração, cloro, pré- oxidação, Trihalometanos.
Pré-oxidação:
Traduz o início do processo de tratamento da água bruta, na qual é injetada uma substância oxidante, como o ozono, cloro, permanganato de potássio, dióxido de cloro, etc., para a oxidação das substâncias presentes, nomeadamente a matéria orgânica, micropoluentes e metais. Sendo realizada com ozono é designada por Pré-Ozonização, e com cloro é a Pré-Cloragem. Esta fase é de grande importância, pois favorece as fases seguintes, nomeadamente a floculação e a filtração, evitando a proliferação de algas e micro-organismos nas instalações. Ver oxidação, pré-cloragem, pré-ozonização.
Pré-ozonização:
Consiste na pré-oxidação com ozono das substâncias presentes na água bruta. O ozono tem-se mostrado muito mais vantajoso que os outros oxidantes geralmente utilizados, melhorando o desempenho dos órgãos seguintes, e consequentemente, produzindo melhor qualidade da água.
Das múltiplas vantagens decorrentes desta fase, há a diminuição da proliferação de algas; não se verifica a formação de trihalometanos, pois oxida os seus precursores orgânicos e diminui a demanda de cloro a utilizar; promove uma leve floculação, mesmo em pequenas concentrações; melhora o tratamento biológico da água ao quebrar as grandes moléculas orgânicas, melhorando a sua biodegradabilidade; elimina cheiros, sabores e cor devido à sua grande ação sobre as substâncias responsáveis por esses fenómenos.
A principal limitação da ozonização da água é a falta de ação residual do ozono, um dos aspetos mais importantes da desinfeção, pelo que torna-se necessário utilizar um desinfetante que tenha essa ação, geralmente o cloro.
Ver desinfeção, pré-oxidação, ozono.
Pressão:
Força exercida normalmente numa unidade de área de uma superfície, ou a proporção de força por área. Em unidades do Sistema Internacional (S.I.) é expressa em Pascal. A pressão absoluta é medida numa escala, cujo zero é lido à pressão zero e não à pressão atmosférica; a pressão manométrica é medida numa escala que lê zero à pressão atmosférica.
Pressão atmosférica:
Pressão exercida pelo peso do ar em qualquer ponto da superfície terrestre. Ao nível do mar, Patm = 101325 Pa (unidades S.I.).
Radiações Ultravioleta:
Ondas eletromagnéticas de comprimento de onda intermédio entre o violeta (visível) e os Raios-X (invisíveis), matam certos organismos, embora não sejam letais para o Homem. A radiação U.V. é utilizada para a desinfeção de água por inativação de contaminantes através da sua reação com a luz causando a morte de micro-organismos por destruição da parede celular, não originando resíduos nem subprodutos tóxicos, evitando o uso de produtos químicos. No entanto, tal como o ozono, a radiação U.V. não deixa nenhum residual que previna alguma contaminação posterior, tendo de se recorrer a um desinfetante final, como o cloro. Este tipo de desinfeção da água (desinfeção física) é geralmente utilizada para o tratamento de pequenos caudais, como por exemplo, para a obtenção de uma água ultrapura ideal para a produção da última geração de componentes eletrónicos. Isto consegue-se usando uma série de barreiras, complementando a osmose inversa com U.V. e ozono em várias fases alternadas: o ozono destrói micro-organismos e elimina minerais, e a radiação U.V. que remove o excesso de ozono. Ver desinfeção da água.
Remineralização:
Também conhecida por recarbonatação, esta técnica de tratamento tem por objetivo o aumento do pH e do teor em cálcio, contribuindo para a formação de uma capa de proteção contra a corrosão eletroquímica nas condutas e restantes estruturas, e promovendo a melhoria das características organoléticas da água para consumo. Geralmente é feita com recurso ao hidróxido de cálcio (cal), com um complemento de dióxido de carbono. Em meio aquoso, o CO2 produz ácido carbónico, um ácido fraco capaz de reagir com compostos alcalinos transformando-os em bicarbonatos neutros, obtendo-se um meio suficientemente tamponado no valor de pH desejado. Nota: uma solução tampão é uma solução resistente à mudança de pH quando se lhe adiciona um ácido ou uma base, ou quando a solução é diluída. Ver água agressiva, corrosão.
Reservatório:
Depósito destinado ao armazenamento de água. Os reservatórios de água municipais podem ser elevados ou apoiados, consoante a necessidade de fornecer ou não pressão à água a distribuir.
Para evitar flutuações da temperatura da água, e para a sua proteção contra insetos e roedores, os reservatórios devem ser semienterrados. Quanto à entrada da água no reservatório, esta deve ser feita na parte superior e a sua saída na inferior, contribuindo assim para a renovação da água armazenada. Os materiais de construção dos reservatórios, tal como das restantes infra- estruturas em contacto com a água, não devem introduzir substâncias, micro-organismos ou formas de energia que alterem as suas condições de potabilidade. Ver armazenamento, desinfeção.
Resíduo seco:
Ver sólidos totais.
Sabor:
Parâmetro organolético que se pode dever à existência de compostos orgânicos, sais inorgânicos ou gases dissolvidos, de origens domésticas, agrícolas ou naturais, por decomposição de plantas, algas e fungos, podendo portanto indicar poluição na origem da captação, tratamento deficiente da água, corrosão química ou crescimento biológico no sistema de distribuição.
A utilização de cloro no tratamento da água pode, se existirem compostos precursores, conduzir à formação de subprodutos causadores de sabores e cheiros desagradáveis, como os clorofenóis. A corrosão de materiais de zinco ou cobre também confere um sabor adstringente à água.
Muito embora a sua alteração não corresponda, na maior parte das vezes a um risco sanitário, pode estar associado a situações potencialmente perigosas.
Salinidade:
Conteúdo total de todos os tipos de constituintes minerais dissolvidos na água. As fontes mais comuns de salinidade são as nascentes que passam através de rochas que contém sais solúveis (origem natural), águas residuais domésticas e industriais, salmouras e água de minas. A utilização e reutilização de água, especialmente em zonas de irrigação, também aumenta a concentração de sais, podendo mesmo provocar a salinização de solos e água para abastecimento. Ver salinização.
Salinização:
Diz-se quando o solo ou a massa de água tem um excesso de sais tal que não suporta a vida vegetal e animal.
Relativamente aos solos, o seu equilíbrio salino fica perturbado, permitindo que os sais se acumulem na zona de cultivo, ou que formem uma crosta salina à superfície. Estas situações são mais comuns em regiões áridas, com baixa pluviosidade, e taxas de evapotranspiração elevadas. A evapotranspiração provoca o aumento da concentração de sais da água que sobra, e nos sistemas de irrigação permanente, em que nunca há época de pousio, a água dos canais de irrigação infiltra-se nos solos, e ocorre a subida das águas subterrâneas que trazem sais para a superfície (a menos que se utilizem sistemas de drenagem).
Os solos têm naturalmente uma concentração de sais diminuta, que acabam por se infiltrar com as águas da chuva. Se o solo tiver concentrações excessivas de sais, essa infiltração pode ser gravosa, pois a água acabará por atingir as águas subterrâneas adjacentes e/ou rios e outros cursos de água. Isto é o que acontece em muitas regiões africanas, em que a água disponível para consumo é reduzida, havendo locais onde está praticamente salinizada.
Há muitas regiões em que a água subterrânea é naturalmente salina, mas esse teor de sais pode aumentar consideravelmente devido a infiltrações de águas de irrigação, ou como já referido, à subida do seu nível piezométrico, pois a água acabará por dissolver os sais solúveis das rochas que atravessa. Estas variações do nível piezométrico também pode levar à intrusão de água salobras adjacentes que muitas vezes datam de há centenas ou milhares de anos. Os aquíferos litorais também estão sujeitos a intrusão marinha, pela sua proximidade à água salgada dos mares e oceanos. Ver salinidade, dessalinização e intrusão marinha.
Salmonelas:
Estas bactérias têm morfologia bacilar, são geralmente móveis, gram negativas, sem capacidade de formação de esporos, não fermentam a lactose, mas a glucose com produção de gás. Produzem sulfureto de hidrogénio (H2S) e lisina descarboxilase e são oxidase negativa. Podem ter o citrato como a única fonte de carbono. As diferentes formas do género Salmonella existem no trato intestinal de portadores humanos como dos animais sem provocar sintomas especiais. Na presença de alimentos, que são um excelente meio de cultivo, multiplicam-se rapidamente provocando, consoante as espécies, febre tifoide e paratifoide, gastroenterites agudas e septicemias. A infeção é geralmente contraída por ingestão de material contaminado por fezes ou urina humanas, incluindo água e alimenyos como o leite e marisco no caso da Salmonella typhi (causadora da febre tifoide ), ou pela ingestão de água contaminada, no caso da Salmonella paratyphi A, B, ou C (causadoras da febre paratifoide )
Sede:
É um mecanismo acionado por detetores específicos que enviam sinais ao hipotálamo (no cérebro) quando existe uma perda de água, quer pela transpiração normal, micção ou respiração, quer pela sudação excessiva devido a uma atividade física, ou pelo aumento de sudação devida a um aumento da temperatura ambiente. O cérebro ativa imediatamente um mecanismo que se traduz pela vontade de beber, e após satisfeita essa necessidade, há a absorção do líquido pelo intestino, equilibrando o nível de água no organismo, cessando o mecanismo da sede. No caso da sede que surge por ingestão de sal, que é um composto que como que absorve a água do sangue circundante da boca ou estômago, há o acionamento de recetores osmóticos, e desencadeia-se o mecanismo atrás referido.
O corpo humano é constituído maioritariamente por água, numa percentagem média de 70 % num adulto, sendo fundamental a reposição diária de líquidos para o correto funcionamento do organismo. Em média deve beber-se diariamente cerca de 2 L, mas estes não têm necessariamente de ser de água, pois há alimentos com elevado teor em água e todas as bebidas são fundamentalmente constituídas por este líquido. No entanto, é a água que regula a temperatura corporal, transporta nutrientes, elimina produtos desnecessários do corpo, lubrifica-o e protege-o contra agressões, por isso devia ser a sua bebida de eleição.
Conselhos para a saúde:
beba água regularmente, mesmo que não tenha sede, e principalmente quando está calor;
beba em pequenas quantidades, e várias vezes ao dia;
se gosta de água fresca, beba em pequenas quantidades e devagar, caso
contrário podem surgir problemas gástricos;
beba água durante a prática de exercício físico para não correr o risco de hipertermia;
consoante as necessidades do seu organismo, consuma água de diferentes origens, pois o seu conteúdo em sais minerais por vezes é bastante diferente.
Sedimentos:
Materiais sólidos, como as areias e argilas, que se depositam no fundo de um plano de água por sedimentação, e que se devem à ação das águas, vento ou outros agentes físicos. Os mais grosseiros são também chamados aluviões, e os mais finos vasas.
Selénio:
Parâmetro relativo a substâncias tóxicas, com origens naturais (erosão de depósitos) e antropogénicas (refinarias de petróleo e minas). A sua toxicidade ocorre a partir de exposições diárias de 200 μg/kg, e embora com sintomas pouco específicos, afeta o sistema circulatório, provoca a queda de cabelo e de unhas. Há estudos que relacionam um aumento da exposição ao selénio com um aumento de cáries e com uma diminuição da frequência de episódios de cancro do estômago.
Separação por membranas:
Processo de tratamento que permite a separação de partículas presentes num fluído, através de uma membrana que exerce uma resistência seletiva à transferência desses componentes. As membranas são películas delgadas (0.05 a 2 mm), com composições químicas muito variáveis, quase todas produzidas via sintética. Os mecanismos de transferência através de membranas podem ser por filtração (membranas de filtração, osmose inversa, nanofiltração, ultrafiltração, microfiltração), permeabilização (para gases) e diálise (simples, piezodiálise ou eletrodiálise ).
Sílica:
Parâmetro físico-químico que depende sobretudo da natureza dos terrenos, resulta da erosão de rochas siliciosas (quartzos e arenitos), mas também pode ter como origens as atividades agrícolas e industriais. As águas naturais podem conter entre 1 mg/L de sílica em águas macias (pouco duras) pantanosas, e até 40 mg/L em certas águas duras. Em zonas de atividade vulcânica e geotérmica, as águas podem ter valores muito superiores. Para os teores normais das águas naturais não são conhecidos efeitos tóxicos significativos.
Segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo humano não são atribuídos quaisquer valores normativos para este parâmetro. Contudo, em certos processos industriais, podem surgir problemas de obstrução, sendo de difícil remoção.
Sistema de abastecimento de água em alta:
Sistema de produção de água e adução. é constituído por todas ou parte das seguintes etapas: captação, tratamento e transporte, geralmente sem consumo de percurso. Pode incluir, p.e., instalações elevatórias e reservatórios de armazenamento de água bruta ou tratada.
Sistema de abastecimento de água em baixa:
Sistema de distribuição de água tratada. é constituído por uma rede de distribuição até aos pontos de consumo direto. Pode incluir, p.e., instalações elevatórias e reservatórios de armazenamento de água tratada.
Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água para consumo humano:
Sistema em alta, abrange a área de pelo menos dois municípios e exige um investimento predominante do Estado, sendo obrigatoriamente criados por decreto-lei. é constituído por infraestruturas e equipamentos destinados à captação, adução, tratamento, armazenamento e distribuição da água destinada ao consumo humano.
Sódio:
Parâmetro físico-químico muito abundante na natureza, as suas origens nas águas doces são a intrusão salina e os efeitos das marés (ocorrendo sob a forma de sais muito solúveis, como o cloreto de sódio), condições climatéricas, algumas atividades industriais e a natureza dos terrenos. Geralmente a contribuição da água para consumo para o total de sódio ingerido diariamente é muito baixa, sendo as suas fontes principais o sal de cozinha e os próprios alimentos. O seu limite de deteção gustativo na água para consumo depende da forma como se encontra, e da temperatura da água. Por exemplo, o cloreto de sódio (o vulgar sal de cozinha) é detetável por volta de 150 mg/L Na e o sulfato de sódio a 220 mg/L Na.
Este elemento tem um papel fundamental nos mecanismos de regulação osmótica do organismo, pelo que os seus efeitos sob a saúde pública, quando em concentrações excessivas, são sobretudo problemas cardiovasculares como a hipertensão, no entanto, geralmente valores um pouco acima dos regulamentados não são perigosos. é importante referir que o teor em sódio tem efeitos sobre a saúde dos bebés, não só por elevação da sua tensão arterial, mas visto que o seu aparelho urinário/renal, nomeadamente os rins, não está completamente desenvolvido, o que pode levar a situações de desidratação por elevação do nível de sódio quando sofrem de infeções gastrointestinais graves. Esta situação é perigosa, podendo conduzir a lesões neurológicas permanentes. Quando for prescrita uma dieta isenta de sódio, deve-se ter em atenção a sua presença em todas as águas utilizadas.
Quando se faz o amaciamento da água com adição de soda (hidróxido de sódio), pode haver um aumento significativo da sua concentração na água tratada.
Sólidos totais ou Resíduo seco a 180°C:
Parâmetro físico-químico que indica os sólidos e substâncias orgânicas e inorgânicas dissolvidas na água, que poderão ter origens várias, permitindo determinar a mineralização total de uma água. Muito embora não se possa estabelecer uma relação direta entre este parâmetro e os seus efeitos sobre a saúde, por dependerem da sua natureza, se as águas apresentarem um valor muito elevado de substâncias em suspensão e dissolvidas, podem ser de má qualidade, afetando as suas características organoléticas , e podem ser corrosivas.
Sólidos suspensos totais:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis com origens diversas. Têm incidência em várias características da água, como a turvação, os sólidos dissolvidos totais, oxidabilidade ao permanganato, carga microbiana, etc., dificultando algumas operações de tratamento, nomeadamente a desinfeção. É pois uma medida aproximada do material particulado presente na água, incluindo a matéria orgânica e inorgânica, como o plâncton, gesso e argilas., e a sua presença nas águas superficiais varia bastante com o caudal e com a estação do ano. Ao nível sanitário, a sua presença altera as características organoléticas da água, não oferecendo garantias de potabilidade. Por si só não representa perigo para a saúde humana, mas consoante a natureza dos elementos pode apresentar riscos para o consumidor. Desta forma, segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo devem estar ausentes.
Solo:
Composto de partículas minerais, matéria orgânica e organismos vivos, que leva um certo tempo para atingir o equilíbrio, tornando-se apto para a agricultura. A sobre-exploração agrícola, o derrube desenfreado de matas e florestas ou técnicas antiecológicas de plantio e irrigação acarretam a sua rápida deterioração. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 21 milhões de hectares de solo sofrem, anualmente, de desertificação.
Solução:
Mistura homogénea de um líquido (solvente) com um gás ou sólido (soluto).
Soluto:
Substância dissolvida num solvente na formação de uma solução.
Solvente:
Líquido que dissolve outra ou outras substâncias formando-se uma solução. A água é o solvente universal.
Substâncias extraíveis com clorofórmio:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis que representa uma enorme variedade de constituintes que apenas têm em comum o facto de serem solúveis em clorofórmio, estando presentes em quantidades reduzidas, razão pela qual são conhecidos por micropoluentes orgânicos. São exemplos destes compostos os inseticidas organoclorados, compostos fenólicos, ácidos húmicos e polissacáridos. De uma forma geral, a presença destas substâncias na água para consumo traduz-se em alterações das suas características organoléticas, na diminuição da velocidade de autodepuração da água e em fenómenos de bioconcentração nas cadeias alimentares. Suspeita-se que muitas destas substâncias sejam cancerígenas ou mutagénicas.
Substâncias tensoactivas (que reagem com o azul de metileno):
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis.
Sulfatos:
Parâmetro físico-químico que pode ter origens tanto naturais (hidrogeológicas, fundamentalmente devido à dissolução de gessos e à oxidação de pirites, intrusão marinha, e reações bioquímicas), como antropogénicas (agrícola, industrial, nomeadamente a indústria do papel e têxtil, chuvas ácidas e dejetos). Ao nível do consumidor estes aniões (SO42-) são os menos tóxicos, podendo causar perturbações gastrointestinais (principalmente em crianças), atuando sobretudo como laxante, principalmente se associado ao magnésio ou ao sódio, no entanto o seu efeito depende grandemente das próprias características de cada indivíduo, e da sua habituação. Os sulfatos também têm influência nos processos de corrosão, nomeadamente por contribuírem para o aumento da mineralização da água, e logo, da sua condutividade, por intervirem no metabolismo de bactérias sulfatoredutoras, em condições anaeróbias, conferindo à água um cheiro desagradável a ovos podres (facilmente eliminável por arejamento).
Sulfureto de hidrogénio:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis, tem várias origens, como certos tipos de indústrias, como as papeleiras, corantes, pigmentos, etc., e como consequência da solubilização de sulfuretos minerais, e de fermentações anaeróbias. A sua presença altera as características organoléticas da água, nomeadamente cheiro e sabor desagradáveis, sendo detetáveis a concentrações aproximadas de 0.05 e 0.1 mg/L, e a sua ingestão oral provoca náuseas, vómitos e dores epigástricas, atuando em alguns processos celulares de oxidação- redução, e bloqueando a ação de vários sistemas enzimáticos. Se ocorrer na forma de sal sódico, uma dose oral de 10 a 15 g é mortal. Se o sulfureto de hidrogénio estiver associado ao ferro solúvel, podem formar-se precipitados negros.
Como as características organoléticas são detetáveis antes de ocorrerem episódios de toxicidade, segundo a legislação em vigor para as águas destinadas ao consumo humano não deve ser detetável organolepticamente.
Temperatura:
Parâmetro físico-químico, que embora não seja de grande importância relativamente aos sistemas de abastecimento de água por manter-se praticamente constante, é um parâmetro que influencia os mecanismos vitais dos micro-organismos que têm por base reações químicas (taxas de crescimento, necessidades em nutrientes e vias metabólicas), determinando a existência de determinados grupos. é naturalmente afetada pelas condições meteorológicas, e por indústrias que utilizem a água como meio de refrigeração.
Teratogéneo:
Substância que provoca defeitos no feto de uma mulher a ela exposta. O mais conhecido é a talidomida, medicamento que antigamente era utilizado pelas grávidas. Outras substâncias potencialmente teratogénicas são os compostos orgânicos de mercúrio e as dioxinas.
Tóxico:
Algo capaz de enfraquecer, ferir ou matar um organismo, por meio de uma ação química. é o caso de gases como o ozono, monóxido de carbono, as substâncias referidas em parâmetros relativos a substâncias tóxicas, etc..
Toxinas:
Substâncias produzidas pelas bactérias, que danificam os tecidos diretamente ou desencadeiam atividades biológicas destrutivas. Relativamente às cianobactérias, as toxinas por elas produzidas podem ser neurotoxinas, hepatotoxinas, e toxinas irritantes ao contacto direto. Há vários tipos de neurotoxinas, algumas das quais funcionam como bloqueadores neuromusculares periféricos (em bioensaios com administração de doses letais a ratos, causam a sua morte ao fim de poucos minutos), outros impedem a degradação da acetilcolina por inibição da enzima responsável, e outras bloqueiam os canais de sódio, inibindo a transmissão neuromuscular. As hepatotoxinas são promotoras de tumores, e quando em bioensaios com ratos, em situações de toxicidade aguda, causam a morte de ratos ao fim de 2 a 6 horas devido a hemorragia intra-hepática e choque hipovolémico. As toxinas irritantes ao contacto direto podem causar hipersensibilidade cutânea e respiratória. Ver cianobactérias.
Transpiração:
é o processo através do qual os animais e as plantas libertam vapor de água, estas últimas através dos poros das suas folhas. Juntamente com a evaporação direta constitui a evapotranspiração. Ver ciclo hidrológico, evaporação evapotranspiração.
Tratamento da água:
Série de processos físico-químicos utilizados para remover sólidos suspensos e dissolvidos da água bruta, que englobam micropoluentes como metais pesados, compostos organoclorados, pesticidas e hidrocarbonetos, por forma a produzir água com as características pretendidas. O tratamento a realizar depende das características da água bruta e da qualidade exigida para a água final, que obviamente depende dos fins a que se destina. Por exemplo, uma água destinada à hemodiálise requer um tratamento específico, não podendo ser utilizada água da rede, pois tem alumínio residual que é um composto que os doentes hemofílicos não têm capacidade de eliminar, podendo-lhes ser fatal. Ver Estação de Tratamento de água.
Trihalometanos (THM’s):
Subprodutos halogenados resultantes da reação do cloro utilizado no tratamento da água com substâncias orgânicas contidas na água (precursores), fundamentalmente constituídas pelo material algal e compostos naturais húmicos e fúlvicos derivados da atividade bacteriológica nas lenhites e taninos que constituem os seres vegetais. Alguns dos efeitos de alguns subprodutos da cloração da água são a alteração das suas características organoléticas por formação de sabores e cheiros percetíveis ao consumidor, mesmo a baixas concentrações, como é o caso dos clorofenóis, mas a presença dos THM’s é bem mais grave em termos da saúde pública. Embora existam na água em pequenas concentrações, a repetição de pequenas doses pode provocar efeitos tóxicos crónicos. Estes compostos, sobretudo o clorofórmio e o dibromoclorometano, são potencialmente cancerígenos e mutagénicos, seja por ingestão, inalação ou por contacto.
A formação de THM’s e outros compostos organoclorados ocorre muito rapidamente nas fases iniciais do tratamento, e a sua taxa de formação diminui com o tempo, sendo a sua presença maior nos meses de verão . A temperatura e o pH também podem potenciar a sua formação, tanto na ETA como na rede de distribuição de água. Por forma a reduzir ou mesmo anular a sua formação, é necessário eliminar os seus precursores antes de se proceder à cloração da água (na pré-oxidação e/ou na desinfeção ). As medidas a adotar para que não haja a sua formação dependem das características da água bruta. Algumas dessas medidas são a utilização de ozono na pré-oxidação, ou de carvão ativado em grãos antes da aplicação do cloro, ou ainda a nanofiltração, a que melhores resultados tem apresentado, embora implique custos superiores.
Turvação:
Reflete uma aproximação muito útil do teor em partículas coloidais minerais e orgânicas, como areias, argilas, micro-organismos, plâncton, etc., (relaciona-se com os sólidos suspensos totais) pelo que pode ser um sinal de contaminação. Além disso, as partículas que conferem turvação à água protegem os micro-organismos dos efeitos da desinfeção , facilitando o desenvolvimento de bactérias, o que faz aumentar as dosagens de cloro necessárias para a desinfeção . Então, antes de se proceder à desinfeção da água, tem de se eliminar a turvação, o que normalmente se consegue com as seguintes etapas: pré-oxidação, coagulação/floculação e filtração, tendo de se proceder à sua análise para o controlo da dose necessária de coagulante e adjuvante de coagulação.
Ideia: uma água turva não é necessariamente imprópria para consumo, assim como uma água límpida não é necessariamente potável. Se a água da sua torneira aparecer turva, deixe-a em repouso. Se a turvação persistir, avise as autoridades responsáveis, pois pode haver alguma rotura nas canalizações domiciliárias ou da própria rede.
Usos da água:
O Homem dá vários usos à água, consoante os quais os padrões de qualidade exigidos são diferentes. De entre os vários usos, destacam-se:
Abastecimento público (consumo humano e de animais)
Irrigação Indústrias (produção, refrigeração)
Rejeição de efluentes/águas residuais
Produção de energia elétrica
Recreio Combate a incêndios
Vasas:
Partículas finas que se depositam no fundo de um plano de água quando a sua velocidade é baixa, e que têm como origens a erosão de rochas, o transporte pelo vento ou pelas águas.
Vimágua:
Empresa de Água e Saneamento de Guimarães e Vizela E.I.M. S.A.encarregada da gestão de serviços de interesse geral, designadamente da gestão e exploração dos sistemas públicos de captação, tratamento e distribuição de água para consumo público e de drenagem e tratamento de águas residuais na área dos municípios de Guimarães e Vizela.
Foi criada a 19 de fevereiro de 2002, por iniciativa dos Municípios de Guimarães e Vizela, com o intuito de usando dos instrumentos previstos na lei, refundar um serviço público, reorganizando estruturas, rentabilizando recursos, implementando novas filosofias de gestão, clarificando competências e responsabilidades, em suma otimizando-o e orientando-o de forma ainda mais exigente e constante para a satisfação das necessidades dos clientes.
Vírus:
São partículas infeciosas com diâmetros entre 18 mm e 300 mm, e consistem em ADN ou ARN e proteínas necessárias para a sua replicação e patogenicidade; estes componentes estão envolvidos por uma capsula proteica e alguns têm uma cobertura de natureza lipídica São parasitas intracelulares que dependem do metabolismo celular do hospedeiro para a sua replicação.
Vanádio:
Parâmetro relativo a substâncias toxicas, ocorre em vários minérios complexos, incluindo a vanadinita e carnotita, e o metal puro pode ser obtido por redução do oxido com cálcio.
Zinco:
Parâmetro relativo a substâncias indesejáveis que surge nas águas destinadas ao consumo humano como resultado da lixiviação de terrenos e rochas e poluição industrial. A sua presença na água para consumo deve-se sobretudo à corrosão de condutas de ferro galvanizado ou de reservatórios, e à sua dissolução de acessórios de latão. Quando presente na água em concentração superior a 5 mg/L provoca um sabor desagradável (adstringente), confere turvação à água, com formação de depósitos granulosos, e produz um película de aspeto gorduroso após ebulição. Em termos sanitários não apresenta riscos em concentrações “normais”, sendo mesmo um oligoelemento essencial à vida, necessário no funcionamento de inúmeros sistemas enzimáticos A dose recomendada deste elemento via alimentar depende da idade e do sexo, variando entre 4 e 15 mg/dia, sendo superior nas grávidas. Doses diárias de 150 mg alteram o metabolismo do ferro e do cobre. Se estiver presente em concentrações superiores às regulamentadas pode ser tóxico, provocando a alteração da coordenação muscular, do balanço eletrolítico, dores abdominais, letargia, náuseas e falhas renais.
9.00h às 16.00h
Vizela9.00h às 15.30h
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